VOCÊ É VOCÊ MESMO? TEM CERTEZA?
VOCÊ É VOCÊ MESMO? TEM CERTEZA?
Que nós vivemos em um país democrático, sem dúvida. O brasileiro goza de total liberdade para fazer o que lhe convir, desde que respeite as legislações e os princípios éticos de boa convivência com o próximo, claro. Porém, essa é uma questão que tem me atormentado ultimamente. Apesar de estarmos em pleno século XXI, tenho uma leve sensação de que essa autonomia que podemos usufruir, não a aproveitamos em sua completude.
Sabemos que o brasileiro não mede esforços para adquirir status, mesmo que não disponha de condições financeiras para tal façanha ou tenha que atropelar a própria consciência para subir ao pódio. Óbvio que o comércio não iria perder essa oportunidade. Os cartões de créditos bancam tudo, desde aparelhos de celular novos - mesmo que o anterior ainda esteja em perfeito estado de conservação, desempenhado as mesmas funções do novo - a carros de luxo. Quem se importa se as prestações serão divididas em mais de 100 vezes. Além das compras supérfluas, há ainda as relações de mentira, apenas para manter o status e aparentar à sociedade uma vida tranqüila e feliz, correspondendo aos padrões éticos e morais cobrados pela sociedade hipócrita. Democracia, por onde anda você sua linda?
O brasileiro dá demasiado valor à aparência fictícia, ignorando de fato aquilo que mais importa – a cultura. Olhando por esse ângulo, lembrei-me de William Shakespeare que na sua famosa peça Hamlet, cunhou a seguinte questão: "SER OU NÃO SER EIS A QUESTÃO!" A problemática filosófica não nos interessa aqui, apenas é uma frase para colocarmos às pessoas que vivem aquilo que na verdade não são. Nos meus momentos de reflexão, pergunto-me, queremos enganar a quem? Por que viver uma relação que não nos faz completamente feliz? Por que comprar aquele bem material que não necessariamente preciso? Talvez, devido às inúmeras parcelas, as pessoas não percebam que o luxo nesse país custa muito caro. A felicidade está tomando um rumo que na verdade, não deveria. Nós estamos confundindo o significado de felicidade com a possibilidade de possuir bens e vestir marcas famosas.
Esta semana, mais exatamente hoje, dia 06 de janeiro de 2017, acabei de reler o grande Romance do Português Eça de Queirós, O Primo Basílio. Eça retrata uma sociedade que cobra das pessoas apenas as aparências. É assustador sabermos que a felicidade estar atrelada à honestidade de uma pessoa, mesmo que essa honestidade seja apenas aparente. Não importa o que nós vivemos, o que somos, o que fazemos, o que pensamos. Não, nessa sociedade hipócrita, mais vale aquilo que demonstramos aos vizinhos. E não podemos fugir à regra, não há necessidade, amigo leitor de mencionar aqui o que pode acontecer àqueles que tentarem quebrar esse paradigma.
SER OU NÃO SER, pouco importa aqui no Brasil. O correto, por essas bandas do planeta é NÃO SER. Não ser curioso, não ser crítico, não ser reflexivo, não ser bom estudante, não ser frequentador de bibliotecas e museus, não ser viajante, não ser simples, não ser humilde, não ser defensor de seus direitos, não ser idealista, não ser, não ser você mesmo. Parece um pouco controverso, não? Verdade, isso é uma catástrofe. Estamos invertendo a ordem das coisas, justamente agora que temos todos os recursos a nosso favor, como a internet, por exemplo, poderíamos avançar na formação de uma sociedade mais intelectual, afastando-nos o máximo possível da caverna em que nos encontramos ainda. No entanto, enquanto a TV for o meio de entretenimento mais utilizado nos domicílios brasileiros, nós ainda caminhamos para o NÃO SER.