Xeque-mate nos trinques

Adoro ouvir histórias, causos, anedotas, piadas e até mentiras cabeludas bem contadas. Creio que sou um ouvinte, talvez porque seja uma nulidade na arte da oralidade. Nunca aprendi a contar uma história, um causo e nem pelo menos uma mísera piada. Por isso admiro tanto os bambambãs da oralidade. E invejo paca essa patota.

Conheci um velho que trabalhou muito tempo no Fórum do Recife. Foi apenas um pequeno funcionário, mas gostava de observar os grandes juris e audiências importantes e gravava na mente as partes marcantes. Ele voltou para Arcoverde, já aposentado, no final dos anos 50 ou começo dos 60, não sei precisar com exatidão.

Esse cara costumava ficar sentado numa mesa do Bar do Cine Bandeirante contando causos que presenciou no Fórum em Recife. Sempre de paletó e gravada, meio gastos, mas só andava assim e com um charuto ba boca. Eu sempre fazia parte da galera dos ouvintes, mesmo que a fumaça do charuto fosse veneno para minha asma. Lembro vários causos que o velho contou.

O que achei mais arretado foi um debate num juri entre dois advogados muito respeitados, os dois esquerdistas rôxos. Num dado momento o advogado mais impulsivo e radical se enfezou com o adversário e levianamente apelou para um problema pessoal: - A intransigência do nobre colega deve ser resultado do problema dele em não poder gerar filhos. Fez-se um silêncio abissal. Então o advogado que era mesmo estéril levsntou-se e calmamente, como sfirmou o velho, deu um xeque-mate nos trinques no leviano: - Pior do que não poder gerar filhos é te-los e não saber com certeza se é o pai.

O velho tinha um repetório imenso, sinto não ter anotado todos os causos que contou na mesa do bar. Adoro ouvir um causo bem contado. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 06/01/2017
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