RATOS

A menina ajoelha-se para fazer sua oração antes de dormir quando depara-se com um pequeno camundongo correndo esbaforido ao longo da parte escura e sem janelas de seu quarto. De súbito dá um grito que desperta a atenção de toda a sua família. Correm todos em debandada. Com tática e estratégia de guerrilha , empenham-se na captura do pequeno e malquisto intruso. Em poucos minutos , após uma emboscada fulminante , o animalzinho é capturado.

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De todos os animais que convivem com o ser humano um dos que provoca maior repugnância e aversão, com certeza, é o minúsculo rato. Animal asqueroso e nojento da ordem dos roedores leva esta negativa fama mais pelo meio em que habita do que propriamente por sua aparência. Onde ele vive? Junto aos seres humanos.

Semelhante a um pequeno esquilo, um preá mais delgado e franzino , mas que a primeira vista transmite a quem o vê uma má impressão, causando certo pânico e por que não nos aventurarmos a dizer, grande fobia na maioria das pessoas.

O engraçado é que o rato, este “serzinho” desconsiderado por Deus e execrado pelos homens, na verdade é parente bem próximo dos queridos porquinhos da Índia , e das comestíveis capivaras.Que ao contrário são afagados e acarinhados por todas as crianças do nosso mundo selvagem e dados como forma de mimos e regalos pelos casais apaixonados.

Nunca vi em todo reino animal tamanha discriminação e preconceito. Se todos os ratos vivessem nas florestas em contato mais próximo com a natureza assim como seu primo o castor, (isso mesmo o castor é primo dos ratos) eles não sofreriam essa implicância e antipatia desproporcional.

Digo isto por que . . .

Estou terminando de ler o livro Incidente em Antares do gaúcho, conterrâneo, e injustiçado pela Academia Brasileira de Letras Érico Veríssimo. É uma obra prima da literatura mundial.

Em determinado momento em meio ao incidente, que logicamente não vou contar qual é , mais precisamente no capítulo LXI (61) a cidade de Antares é surpreendida por um ataque em escala bíblica por uma multidão de ratos.Espalham-se por toda a cidade. A princípio, convergindo dos bairros mais pobres, juntando-se, “como se tivessem recebido ordens irradiadas de um estado-maior” conta o autor, aos ratos que já habitavam o centro de Antares.

Não preciso dizer o tamanho do furdunço que provocou na população a dita infestação. Causou náuseas e asco em todos, sem exceções. Foi unânime o desagrado do povo. Nem uma viva alma pendeu sua compaixão , por mínima que fosse , para o lado dos pequenos mamíferos.

E é neste momento que ressalto minha teoria do preconceito confuso e equivocado para com o pequeno roedor.

Digamos que esta invasão fosse composta, ao invés de ratos, por uma multidão de chinchilas , ou quem sabe hamsters? No imaginário popular nojento são os ratos, não as chinchilas , nem os hamsters. Estes são fofinhos, meigos e delicados. Despertam em quem os vê ou tocam uma sensação maternal de acolhimento. No entanto eles são da mesma família dos ratos.

Por que tamanha diferença de sentimentos? Qual o motivo do apego a um e agravo e repulsa pelo outro?

Certamente eles continuarão morrendo aos borbotões , injustamente com certeza. Mais e mais armadilhas e venenos letais serão produzidos para o seu extermínio sistemático.

Fim aos ratos!! Morte a todos eles!! - sei que minhas palavras não mudarão em nada o modo de pensar de todos , mas fica assinalado o meu protesto.

Menininhas , podem fazer suas preces sinceras. Peçam , agradeçam e louvem , mas não se esqueçam de colocar nelas este pobre e mísero abandonado da natureza.