Há uma criança na mulher
Corre, escuta a mãe gritar: "volte aqui, minha filha! Você vai ficar de castigo", porém insiste e se rala. Cai muito feio, mas vive aquele momento que queria. Chora, faz birra e levanta. É, afinal, foi só um machucado, no qual a gente joga um cado d'água, passa sabão e fica tudo bem. Volta a correr. "Mas, que menina teimosa! Lá vai ela de novo!", diz a mãe raivosa. A criança não tem dimensão da tamanha malícia existente entre os homens e, talvez, seja por essa mesma razão que vive tão alegremente e é capaz de sentir cada momento com tanta verdade e emoção.
Acho-me um tanto criança. Muitas vezes, ajo sem maldade e muitas pessoas não compreendem, talvez, pela minha idade. Se isso é ruim? Sim e não. Ruim, pois gera discussões, brigas inúteis, já que me exigem mais rigidez, quanto aos meus atos. Bom, porque há uma garantia de que ainda me resta a ingenuidade oriunda da minha intensa infância, do meu “ser moleca”. Às vezes, odeio essa peculiaridade, tenho vontade de fazê-la morrer dentro de mim, como em um sono eterno e, jamais, dar-lhe a chance de acordar. Mas, em certas instâncias, auxilia-me a encarar esse mundo tão cruel com os olhos mais genuínos e, assim, afastar muita coisa que não me convém. Ajuda-me a viver mais intensamente. Dessa forma, eu encaro a minha vida. Sim, até hoje. Ah! Essa criança não pode padecer em mim. Nunca.