Em Resposta.

Senti um devaneio tão grande, que me fez lembrar do tempo em que eu era menino. Do meu tempo de teatro e palhaçada. Das minhas apresentações na casa da cultura e para outras escolas. Eu lembrei da minha primeira poesia. Lembrei do sentimento que a embalava, da poeira que agora à assolava, lembrei da minha primeira felicidade em lágrima e eu sorri. Meu riso foi involuntário, foi como se eu tivesse inalado hélio. Meus lábios se curvaram, meus dentes amostra, minhas orelhas em pé. Por um breve momento eu senti a endorfina percorrer meu corpo, a felicidade estava em minhas veias e transparecia no meu físico, era nítido, pelo brilho em meus olhos, pelo largo sorriso estendido que eu oferecia a todos.

Eu consegui esse estado epifânico por uma simples lembrança de minha infância, e que infância eu tive. Eu corria no pasto, tinha uma árvore que imaginariamente tinha uma casa, tinha um córtex que me levava a outras dimensões. Eu já era formado em biológicas aos 9, sem ter lógica dos 5 anos que me esperavam de graduação. Lembro que corríamos a tarde inteira, soltávamos papagaio, brincávamos de pique-esconde, pique-pega, bolinha de gude. Na minha época mais "descolado", ou melhor, mais criança, fazíamos carrinhos de rolimã, amontoávamos madeira, pregos, porcas e todas as parafernálias que encontrávamos que poderiam ser usadas em nosso projeto de dominar a rua. Era bastante divertido, e em meio machucados, concussões e confusão riamos até a sol se por. Nossas noites não eram monótomas, aos finais de semana ficávamos em cima de uma laje de uma casas da rua, que por um capricho da geografia do local ficava em alinhamento ao beco onde morávamos. Ficávamos ali olhando as estrelas e a lua, que surpreendentemente eram tão visíveis que parecia que estávamos no meio da mata, era maravilhoso. Ali banhados pela luz dos astros ficávamos inertes em "estórias" de terror que aqueciam nossas mentes e faziam nossos corações pularem para fora do peito. Lembro que tinha uma senhora, que morava em uma casa com os muros pintados de azul, ela fazia as melhores coxinhas que eu já havia comido. Ela sempre nos contava "estórias" do chupa-cabras, lembro que eu ficava aterrorizado nas noites em que a lua não aparecia, era nessas que o bicho aparecia para sugar o coração dos mentirosos. Era divertido e eu amava.

Minha infância foi bem aproveitada. Nela, ralei meus joelhos, chorei, ri, conheci coisas, lugares e pessoas, experimentei sensações, me descobri. Descobri que eu sou mudança e a cada dia sou um ser novo.