SEMENTE DA ESPERANÇA
Agora todos se aparelham em promessas para o ano vindouro. Alguns pedem paz; uns ambicionam encontrar o amor ou a cura; outros querem muito dinheiro; os de lá preparam dietas mirabolantes, os de cá pensam em casamento, filhos, etc. Mais do que nunca é tempo de arquitetarmos, bem como escrevermos e registrarmos como iremos alcançar e cumprir essas promissões que sempre nos vem à mente nesta época do ano. O filósofo e pensador chinês, Confúcio, nos alerta que “devemos verificar se o que prometemos é justo e possível, pois promessa é dívida”. Da mesma forma veneramos o que é chamativo ao visual, e como dizem por aí, muitas vezes “comemos com os olhos”, isto é, tudo que está à frente queremos ter: seja a mulher bonita, seja um carro novo, seja uma casa maravilhosa, seja uma nova amizade ou um emprego mais rentável. Muitos possuem esse impulso voraz de não refrear as suas emoções, seus quereres e cobiças. O advogado e líder indiano, Mahatma Ghandi, nos ensina que “há o suficiente no mundo para todas as necessidades humanas, não há o suficiente para a cobiça humana.” Parece que, ocasionalmente, somente percebemos o rombo, o estrago, quando já se foi; quando o leite se derramou; quando o acidente aconteceu ou quando já não dá mais para voltar atrás. Não raramente, nos últimos dias do final de ano, devoram literalmente tudo que veem pela vanguarda, se esbaldam em bebidas que possivelmente jamais degustaram ou até já recusaram, dizendo: “o que importa é o momento”. Nesse caso, será que vale se entregar? Varar altas madrugadas, esbanjando toda a energia que está contida em coisas vãs é o melhor remédio ou pode ser tornar a doença?
Certa vez havia um homem que tinha tudo que um lar dispõe para ser feliz: filhos inteligentes e educados, uma bela casa, uma bela esposa que o amava e o respeitava e que também cuidava muito bem da casa e de tudo que era importante para eles. Todavia o homem não assimilava que tinha uma grande riqueza em seu lar. Ele vivia os dias fora de casa, nas baladas da vida; em reuniões que não tinham hora para começar e nem terminar; na casa de pessoas que lhe diziam serem amigos. Esse homem era bastante altruísta aos olhos de todos, exceto a sua família, algo parecia que não estava bem. Ele não prestava atenção aos filhos e nem a esposa, muito menos a seus pais. Ele vivia uma vida desenfreada, saía cedo de casa, chegava tarde da noite constantemente. Com o tempo, os filhos foram crescendo e nem sequer reconheciam mais aquele homem como o seu pai. A esposa, como não obtinha a atenção de seu esposo, iniciou também uma vida fora de casa, com outras amizades e aquele lar parecia que estava se diluindo e se desmoronando pouco a pouco. O que poderia ser uma grande história de amor, cumplicidade, companheirismo estava se tornando um pesadelo. A esposa vivenciou problemas psiquiátricos e de consultas em consultas, triste, abatida, sem coragem para a vida. Os filhos estavam desestruturados emocionalmente e não tinham nem ideia do que estava acontecendo. Até que um dia o casal decidiu romper aquele casamento e cada um foi viver em lados opostos, infelizes, quase que desalmados, pois parecia que toda aquela situação havia arrancado um pedaço de cada um da casa, dos pais e dos filhos.
Vale-nos refletir que em tudo que há na caminhada da existência há de brotar em nós a semente da esperança e não uma espera sem fim. Isso mesmo, muitos de nós apenas esperamos as coisas acontecerem, esperamos as coisas nos atropelarem. Acreditamos de maneira veemente que em algum momento tudo vai se transformar e que por algum elemento da natureza o que está ruim irá se transcender em total bondade. Assim, como em um passe de mágica! Mas lamentamos dizer aos “esperantes” de plantão que nada cai do céu, do nada. Tudo deve ser muito bem lapidado. Toda a caminhada deve ser construída tijolo a tijolo! Bem assim, todo passo deixa rastros, que nos impulsionarão para o melhor ou para algo que não desejamos a ninguém. Albert Camus, escritor e dramaturgo francês, nos diz que “não devemos esperar pelo juízo final, porque ele realiza-se todos os dias”. Cada palavra bendita ou cada gesto maldito nos trazem implicações. A vida pode ser comparada a um bumerangue, pois tudo o que vai, volta! Se você roga palavras de acolhida, essas mesmas palavras lhe retornarão para um bem fazer. Se você deseja o mal a alguém, ou se você faz o mal alheio, tenha em mente que sua vida será traçada por tudo isso que você pensa e logo você vive. Se você não gosta de alguém ou demonstra sentimento de indiferença e de ódio, saiba que você dormirá e acordará com essa pessoa diariamente em seus pensamentos, no seu subconsciente.
É possível encontrarmos flores, flores no deserto! Cultivemos alegria, e o perdão; professemos palavras de sucesso e vitória; queiramos o bem comum, ainda que nem todos lhe queiram assim! A história pode ser calcada não na espera, mas no esperançar. Quem esperança, age! Quem esperança, se move! Ou seja, o verbo “esperançar” nos apresenta a ideia de uma espera dinâmica, de uma visão ativista; de que tudo o que fazemos vai ecoar nos quatro cantos do mundo e o universo estará ao nosso favor. Também assim a vida edificada em um alicerce firme se sustentará, mas uma existência construída no desamor, na impiedade, na desordem e na infelicidade será o fracasso cedo ou tarde de quem o cogitou para que as coisas fossem assim. Como proferiu o poeta chileno, Pablo Neruda: “você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências”. Trabalhemos sempre mais para a dignificação do homem, para que ele se talhe e se torne continuamente uma preciosidade humana perante os homens e precipuamente perante a autoridade divina.