AS PALAVRAS DO MEU TIO

Disse-me o tio José um certo dia, que o que ele mais gostava era de ouvir um cantador de viola cantando repente. Foi ouvindo essas palavras que eu senti vontade de cantar e me tornar um cantador profissional e seguir a voz do meu destino. O meu tio profetizou o meu futuro e só não disse o que eu ia ser como cantador, se ia ser feliz ou não, como realmente não fui. Cantei trinta anos sem fazer nome, sem ganhar dinheiro com a viola, embora eu tenha feito aquilo que sempre quis fazer, que era ser repentista e não um doutor frustrado, como tantos tem sido neste meu Brasil. Mesmo sem ter tido fama ou ganhado dinheiro, eu ainda me orgulho de ter vivido três décadas de viola sem extorquir dinheiro de ninguém e sem babar a nenhum cidadão. Deixei a viola porém não deixei de escrever e nem ler e também compor os meus sonetos, poemas e outros escritos literários. Nasci para a literatura e não posso deixar de escrever para mostrar à sociedade idiota que nasci dotado para a arte literária. O idiotismo no Brasil é tão grande que os letrados de hoje se recusam escrever qualquer coisa e sobretudo textos literários. O meu tio estava certo com a sua profecia sobre mim, e a carreira que muito jovem abracei, embora eu não tenha feito fama nenhuma com a arte do repente, mas até hoje não me arrependi de ter sido o que mais quis ser, um repentista popular e cantar para o povo simples como eu. Como cantador passei despercebido por uma geração inculta e prepotente.

Poeta Agostinho
Enviado por Poeta Agostinho em 03/01/2017
Código do texto: T5870972
Classificação de conteúdo: seguro