I - Cena


 
         "O homem ergue a mulher do sofá com seus braços fortes, de funda ternura, e a sustenta de pé. Ele lhe diz que isso não pode continuar desse jeito, que sendo ela quem é, não pode desistir de tudo assim. Ela responde que não sabe onde encontrar forças e poder de vontade e prenúncio de algum sonho, qualquer um, para querer lutar por seu corpo, por suas pernas, por qualquer caminho ainda, do lado de fora da janela. O homem afirma que não é possível imaginar daqui a 10 anos ambos dizendo as mesmas coisas deste aqui e deste agora, deste tempo que se alonga, tempos de tantas perdas em ambas as suas vidas. Ela retruca que não se imagina daqui a 10 anos... que suas amigas, as quatro mosqueteiras, têm tentado em vão demovê-la de tanta inércia, de tamanha desistência. Ele exclama que ela vai ter que reagir nem que tenha que forçá-la a buscar novo rumo para si mesma. Ela pondera que depois ele vai partir, ela sabe. Ela sempre sabe do fim dos tempos... Sabe também que ele tem toda razão, que se ela não reagir está PERDIDA. Ela sabe, ele sabe. A mãe quer viver e vai viver muito e precisa da mulher em questão para continuar. A mulher em questão também precisa de si mesma para continuar. Os dois amigos se olham... se olham... A mulher quer crer... por si mesma... por ele... por sua mãe, também. Ela quer... Ela precisa crer..."




 
PS. Palavra a um amado amigo: Nós sobreviveremos a tudo. Nós haveremos de sobreviver a tudo. Que assim seja! Assim será! Beijo terno da tua amiga Zu.








                     II -  Decisão, ainda que provisória

 
        Já não espero nem sonho com o quer que seja, a não ser que me venha dos que têm, efetivamente, permanecido ao meu lado, de verdade e pra valer, em anos e tempos muito difíceis, às vezes agônicos, esses poucos, muito poucos seres - no mundo imediatamente real - que me aceitam no que sou, nas minhas sombras e luzes, nos meus abismos e planícies, nos meus acertos e fundíssimas conquanto demasiado humanas contradições... assim como eu também costumo aceitar os seres, com uma e outra exceção (Nunca me pretendi uma pessoa capaz de plena e absoluta e total isenção e imparcialidade, não sou boa o suficiente para tanto). Preciso, para continuar a sobreviver, de manter o possível de distância emocional e física daqueles para quem sou uma espécie de alienígena, merecedora, talvez, até de um certo desprezo. Preciso me proteger, preciso me auto poupar, por mim, por ela, também (...) Falo do mundo e de seres do imediato real, falo de energias vitais que preciso preservar em mim, porque eu preciso e dependo de mim, porque há, ainda, quem precise e dependa de mim... Há, ainda, quem dependa e precise de mim...