Assim ou ...nem tanto 77
O Regresso
Estavas ali. Do tanto que trazias para dizer sobrou breve, gemido, o olá. Sentaste-te na areia e enrolavas as mãos no silêncio à procura de palavras. Não respondi, que o som de tudo o que quis falar morreu nos olhos cheios de lágrimas, nos olhos que de ti me liam sempre a adivinhar o que ficou atrás do tempo, para lá das casas que dali mal nasciam, daquele azul que doía ao meio dia. As coxas abandonadas davam guarida às mãos e o peito macio, arfava saudades, amores, raivas, tudo o que ficou pesado arrastar por tanta estrada, tanta duna, tanta inquietação. Podia não querer a conversa, podia nem ali estar mas estando à tua espera permaneci ilha e gelei ao sol. Como se retoma a intimidade? Que palavras, que gestos, que olhares? Que distância traz o medo? E se, agora, depois de tanta ausência não me quisesses, se eu, de esquisito te rejeitasse? E a brisa trouxe mais lixo e entrava areia no caldo que fervia fora da barraca. Duas batatas, a rama do nabo, a posta de peixe seco cuidadosamente destroçada. – Tens fome? Só com fome se traga esta comida, só com afeto s
e atura esta lonjura, só em memória do que já nem temos para dar voltaremos ao mesmo lugar. Mas vieste. Diz que não te custou a caminhada, que estás de vontade, que ainda seria para ti bom acolher filhos meus para criar. - Fico, disseste. E o caldo ficou pronto, o ar leve, o tempo bom.