CRÔNICA – No tempo de papai – 02.01.2017
CRÔNICA – No tempo de papai – 02.01.2017
Ah! Quanta saudade do tempo de papai. Uma pessoa sem escola, mas especialista em criar filhos. Foram somente seis da segunda mulher, minha linda mãe, e dois da primeira, que Deus mantenha ambas em lugares especiais do seu lado, todos juntinhos, porquanto merecem e muito.
Rompi a passagem de ano à frente da televisão, ligado na Globo (era o jeito) como sempre, e pude ver o péssimo espetáculo da virada, montado especialmente na queima de nosso dinheiro, com maior ênfase àqueles Estados mais necessitados de ajuda, tudo por conta da falta de responsabilidade de seus governantes, que muito gasto inapropriado fizeram ao longo de suas administrações, e continuaram a fazê-lo até o final do mandato. O nordeste, como sempre, não ficou por baixo, pois adora querer ser grande, imitando àqueles que se dizem mais ricos (Rio de Janeiro, São Paulo, etc.).
Como pode a cidade do Recife queimar dezoito minutos de fogos de artifício; Fortaleza também; Natal e João Pessoa um pouco menos!!! Ora minha gente, andam dizendo que o nordeste atravessa a maior seca dos últimos cinquenta anos, e a região acaba de ser socorrida pela União com recursos e mais recursos para reforçar seus caixas, que andavam perto de saldos negativos. Até dinheiro sujo da repatriação foi enviado para salvar a situação de penúria (só no papel), que atravessavam os Estados pertinentes. Como se sabe público e notório, a Odebrecht pagava propina também com dinheiro enviado ao exterior, em dólares, euros e outras moedas papel conversíveis em ouro. O nosso parlamento criou lei para o retorno desse dinheiro, pagando o competente imposto de renda, para regularizar a situação dos contemplados, numa clara medida de salvaguarda aos que receberam propinas e que albergam mandatos populares, tornando-as lícitas para efeito de criminalização. Isso também pode ser considerado como obstrução aos trabalhos da Lava-Jato.
Mas o foco de meu texto descambou para um assunto diferente do que eu pretendia, todavia, vou retomá-lo. No tempo de papai filho algum rompia ano novo fora de casa. Podiam até estar fora, todavia na hora sagrada da meia-noite tinham de estar com os seus velhos, porquanto aquele abraço fraternal não poderia faltar, a confraternização era elemento essencial àquela época, mesmo que a mesa não estivesse repleta de alimentos especiais e bebidas de categoria. A mamãe abatia uma “penosa”, o velho comprava o antigo vinho São João, tinto e doce, e fazíamos a festa, tão bela como a mais requintada que pudesse existir nos arredores de nossa modesta casa na Vila do Moinho (Grandes Moinhos do Brasil), um conjunto de 66 casas, numa viela, em que todos sendo operários dessa empresa se confraternizavam numa grande harmonia. Então a saudade me vem aos olhos e as lágrimas escorrem aos poucos em minha face, lavando as rugas já mostradas pelo tempo.
A tristeza tomou conta de mim. Apenas uma filha e uma neta estariam comigo. De repente a filha teve de ser internada no hospital, a fim de ser socorrida de fortes dores renais, levando-a a expelir vários cálculos, naquilo que provoca uma dor quase insuportável. Na nossa mesa, umas fatias de queijo, uma champanha, alguns salgadinhos e refrigerantes, tão simples como outrora, mas enfim o ano velho partiu sem deixar saudade alguma pelo menos aqui na minha casa.
Por vezes não me conformo como que tendo uma praia belíssima aqui pertinho a nossa disposição, a quinhentos metros de casa, meus filhos deem preferência a outras plagas, por vezes em casas de conhecidos, numa convivência que pode até ser salutar, todavia não acho conveniente dividir privacidade alguma com terceiros, por menor que seja. E o que é melhor: aqui é de graça, não se gasta nada. Ainda me dou por satisfeito, eis que não deram para o vício das drogas, graças a Deus, são formados em curso superior: Engenharia, Direito, Fonoaudiologia, Odontologia e Pedagogia.
Talvez, e isso é uma hipótese que não pode ser descartada, não se sintam tão felizes junto aos seus pais, e isso me dá uma saudade de antigamente... Meu pai está vendo tudo
.
Fico por aqui.
Foto: Óleo sobre tela de minha autoria.
Ansilgus