Fantasmas Sociais
Estava lendo sobre a atriz americana, Halle Barry que recebeu sua entrada na calçada da fama. Junto com toda a atenção da mídia, os holofotes e o pensamento de milhões de pessoas – ela é tão linda - murmurava-se que essa mulher tão bela, tão famosa e tão bem sucedida havia tentado o suicídio. Que fato estranho, alguém ser tão maravilhoso e, no entanto não querer mais viver. Somando-se a essa exclamação mútua – você deve estar pensando a mesma coisa – fiquei sabendo que uma amiga, com uma vida perfeita, com marido perfeito, quer a separação. Ela me disse – sou infeliz.
Paralelamente a isso, me vem o nome de um filme – O Espelho tem duas faces. Também me ocorrem outras inúmeras situações em que homens, mulheres, lindos e lindas, com sucesso, com glamour quiseram terminar com suas vidas das mais diversas maneiras. Talvez o grande inimigo de todos esses homens, mulheres, eu e você sejamos nós mesmos. Damos tanto valor à aparente superfície que tentamos moldá-la ao gosto do freguês. Por freguês podemos entender toda uma sociedade que nos acolhe e nos protege desde que sigamos suas regras pré-estabelecidas. Casais devem parecer perfeitos. Artistas devem parecer bem sucedidos. Devem estar alegres sempre, bonitos sempre, saudáveis sempre. Há, no entanto algo muito mais importante e valoroso do que os papeis representados para o público, sejam estes pequenos ou privados. O nosso verdadeiro eu interior. E quando lutamos contra a nossa verdadeira essência em prol da roupagem usada na área social, existe o sofrimento e a dor. Porque temos que vender uma imagem para o mundo do que somos lindos, bonitos, elegantes e maravilhosos. Porque temos que parecer alegre quando o que queríamos era somente estarmos sós. Porque vendemos tanto a imagem do dia-a-dia, que é uma máscara social e deixamos de usar nossa verdadeira roupa. Porque temos que ser bem sucedidos, aparentando dentro de moldes já arcaicos e corrompidos. Nós perpetuamos estruturas corrompidas. Vivemos junto com companheiros que não nos estimulam que não nos amam que competem diariamente conosco. Passamos uma imagem à sociedade de um casal feliz, nossos filhos futuramente agiram exatamente como nós e os filhos de seus filhos. Criamos gerações de frustrados. Vimos diariamente astros e estrelas maravilhosas, esbeltas, lindas, poderosas, completamente sós ou incapazes de manterem um relacionamento. Vivemos vidas de aparências. Temos medos de ouvir nosso verdadeiro interior, Temos medo de matar nosso pior inimigo, a superficialidade. Precisamos das aparências porque mascaram nossas vidas vazias. Somos seres carentes. Precisamos desesperadamente de amor e nessa busca constante nos esquecemos que o amor maior é justamente o que provém de nós mesmos. Porque temos que ter casamentos infelizes, carreiras estressantes, solidão. Porque precisamos pagar um preço tão alto em busca de uma imagem ideal se ao final essa imagem some e apodrece. Porque não buscamos a nossa verdadeira capacidade criativa. Precisamos realmente de tanto dinheiro para sobreviver? Precisamos ter sempre a roupa da moda? Precisamos gerar mais uma dinastia de infelizes à custa do papel social embutido em cada um de nós. E esses fatos não se aplicam somente aos perfeitos, aos lindos e famosos. Os também imperfeitos menos lindos e nada famosos fazem parte deste rol de atribulação humanitária. Tais pessoas vêem seu modelo de sucesso no insucesso interior de superfície social. Li certa vez que alguns meninos das favelas cariocas estavam roubando, matando porque desejavam os tênis de marca, as calças de griffes e assim por diante, como se ter tais acessórios os tornassem pessoas aceitas pela superfície aparente. Não existe certo e um errado, mas penso que em nada onde for colocada a hipocrisia de uma sociedade desgastada deva ser realmente considerado. Acho lindo e me emociono quando vejo dois idosos de mãos dadas, conversando, passeando. Sinto-me feliz quando vejo pessoas famosas colocando para fora situações onde tiveram que fazer um balanço das suas vidas. Sinto-me estimulada quando sei que amigos meus tiveram seus trabalhos reconhecidos. Mas também me sinto triste em perceber o quanto ainda nos apegamos a coisas efêmeras e o quanto somos levados de maneira brutal pelo desamor a nós mesmos. A vida é grandiosa, divina, seja para você um simples mortal ou para alguns dos nossos ídolos. Podemos torná-la especial e para isso teremos a profunda necessidade de combater o medo. O medo do não dar certo, o medo de dar certo, isso somente se tornará possível se ao invés de olhar a superfície aparente de um lago, ousar mergulhar nele e descobrir a pessoa linda que existe em cada um de nós.