Minha sacada!


Falo a do apartamento de Caioba, Bairro do Município de Matinhos, Litoral do Paraná, Brasil, América do sul.
Gosto de sentar no canto direito, na cadeira preferida, próxima a pia e observar o que ocorre.
Há esta hora, relativamente cedo ainda, passam grupos de espécies diversas à caminho do mar, logo ali depois do prédio ao lado.
Em seguida a ele, apenas atravessar o calçadão. A areia espera o pé da gente. Convidativa, mesmo com dia de chuva!
Entre estes grupos passam por minha atenção, também, os dos cães famintos, mal nutridos, com cadelinhas prenhas, multiplicando a espécie de maneira desastrosa, vindos à vida para sofrer fome e maus tratos humanos.
Falta de uma Política Pública que sanasse tal problema. Sem dúvida...
Têm, em sua maioria, os grupos da minha espécie.
Acaba de passar um, composto de nove pessoas. Quatro casais e um magricela comprido e aparentemente sem parceiro, lá atrás.
Os demais, todos de mão dadas.
Mãos dadas são tônica na praia. Não minguinhos entrelaçados, nem braços dados, nem um para cada lado. Na grande maioria das vezes, mãos dadas.
Ali todos exerciam este costume.
O da frente, muito gordo, com sua mulher também exuberante nas formas, ela chapelão de aba larga, do tipo que se compra em viagem de navio. O dele, boné surrado e feio, meio cinza, sabe lá, com a aba virada para o lado esquerdo.
Os demais casais eram bem mais moços. Falavam alto e todos ao mesmo tempo.

Durante o percurso dos metros que tomam a frente do meu edifício, uns 18 a 20, aproximados, eu escutei os seus alaridos, embora não definisse o que diziam, pelo aglomerado de palavras umas sobre outras, como mencionei.

Escaparam da minha vista e fiquei imaginando porque nenhum deles levava cadeira. Algumas alternativas se apresentaram em minha mente também, aparentemente, bisbilhoteira:
1) Possuem bom poder aquisitivo e contratam servidor nativo pra montar barraca grande. Ao chegar lá já tem isto e mais as cadeiras à sua disposição;
2) Saíram só para caminhar e voltam mais tarde para curtir a praia. Por hora, apenas uma voltinha (engraçado, uma voltinha assim, “empencados”... e todos de mão dadas, digo dois em dois. Menos o aparentemente sem parceiro...);
3) É um coeso grupo que não curte praia. Vem para comer, dormir, beber e jogar pôquer;
4) Das quatro mulheres, uma  delas tem cólicas, está menstruada, a gordinha, em quase total menopausa, está tomada por calorões e calafrios alternados o tempo todo e duas estão enjoadas pelo inicio da gravidez ainda não evidente.

Os homens, muito chateados, logo mais, vão todos para Guaratuba, sozinhos.Vieram dar uma volta com suas mulheres só para precerem legais...
O aparentemente sem parceiro fica, tem um namorado lá para o lado de Matinhos;
5) Não é nada disto, e eu não sei o que é.

Logo em seguida, aquele grupo de três, tão esquisito. Ele, muito alto e magro, ela bem baixinha e muito roliça. Carrega com os dois braços uma criança de mais ou menos uns dois anos bem embrulhado em cobertor (me pergunto se está aguentando um calor destes... mas a mãe é ela, afinal...); carrega no ombro a sacola que parece muito pesada, pois é enorme. No outro ombro, pela alça, uma Guarda Sol enorme, que quase arrasta a ponta na calçada onde pisam e uma bolsa pequena, de duas cores.

Ele, entre os dedos que devem ser encardidos de nicotina, não consigo ver daqui, leva um cigarro que põe na boca uma tragada atrás da outra... Acesso, lógico.
Ah, sim, e, fazendo o favor, também caminha. Mas é só.

Não vou contar o que escutei da lourinha oxigenada, de voz esganiçada que passou logo depois... o que ouvi dizer para o guri de doze anos e para a velhinha. Estavam com ela. São coisas difíceis de escrever.

E muito mais de compreender...
Como pode um ser humano ser tão brabo e irritado...?

Enfim, alguém dirá que sou, sim, bisbilhoteira. Mas não sou. Certa que não.
Na verdade, sou interessada.
Observar o ser da minha espécie me fascina.
Não para me meter em seus caminhos.

Mas, sim, para desvendar cada dia mais o que existe dentro... e fora, da alma humana!

Pensando bem, o digno da minha maior  admiração foi  o aparentemente sem parceiro do grupo dos nove...
isabel Sprenger Ribas
Enviado por isabel Sprenger Ribas em 01/01/2017
Código do texto: T5868996
Classificação de conteúdo: seguro