Responda quem puder
O País passa por momentos delicados, revestidos de complexidades nunca antes experimentadas. As crises econômica, política e institucional se juntaram para castigar sem dó nem piedade o contribuinte brasileiro. Que, aliás, sempre pagou integralmente o pato (leia-se carga tributária extorsiva), apesar de (em tese) não ter culpa no cartório. Foram os dirigentes, os mandatários, os políticos corruptos e desavergonhados, os ladrões de nossas esperanças que finalmente conseguiram adernar o Titanic sul-americano, que embora (desde o destemido Pedro Álvares Cabral) deitado em berço esplêndido, ainda oferecia alguma esperança aos seus constritos e demasiadamente cordatos habitantes. Pois agora a coisa é um pouco mais embaixo. As notícias da área econômica são desanimadoras. As medidas efetivadas pelo governo para reaquecer a economia (ainda) não surtiram efeitos. Absolutamente todos os setores foram atingidos pela recessão econômica, que não dá sinais de arrefecimento em curto e médio prazos. O desemprego atingiu índices alarmantes, com empresas fechando as portas por conta da queda brutal de receita. Estados e municípios estão com as finanças em frangalhos, comprometendo serviços básicos como saúde, educação e segurança. Com esse cenário tenebroso, o incerto ano de 2017 vem tirando o sono do pai de família, do empresário, do comerciante, daqueles que realmente fazem essa nação crescer.
Nesse momento de dificuldades, poder-se-ia, com toda a legitimidade, apontar responsáveis e esperar a punição rigorosa da lei e isso, de certa forma, já está acontecendo. A Operação Lava-Jato escancarou as entranhas e a podridão do poder, personificada numa sangria de recursos públicos sem precedentes na história (o assalto aos cofres da Petrobrás é o melhor exemplo disso). Ocorre que a viabilização das chamadas delações premiadas, que diminuem a pena dos condenados colocando-os em liberdade (para que se refestelem em mansões nababescas e usufruam tranquilamente dos bilhões surrupiados), soa como impunidade. Isso é um escárnio ao cidadão brasileiro, que padece das maiores dificuldades para sobreviver com um mínimo de dignidade. Também seria leviano acusar somente os últimos governos pela situação atual. As instabilidades econômicas remontam há décadas, sem que efetivamente nossos dirigentes tivessem a capacidade de administrar a coisa pública com (pelo menos) a probidade esperada. Não se pode jogar todos na vala comum, mas é humanamente impossível separar o joio do trigo, mesmo porque eles mantêm uma estreita e libertina convivência entre si. Numa análise simplista, nota-se que uma parcela da responsabilidade recai sim sobre o eleitor, no momento em que elege gente mal preparada para cargos de relevância. Os mesmos eleitores omissos e indiferentes, que hoje criticam a erudição do “mesoclisante” Michel Temer, o fizeram com a titubeante Dilma Rousseff e com o falastrão Luiz Inácio da Silva (a única mais honesta viva alma que já ocupou a chefia do executivo federal).
Para complicar ainda mais a situação, os poderes da República andaram se estranhando em algumas oportunidades, com reclamação dos presidentes da Câmara e do Senado de intromissão de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) em assuntos legislativos, além de algumas trocas de farpas acaloradas através da mídia. Como tudo isso é briga de cachorro grande, resta ao cidadão brasileiro trabalhar mais e mais, tentando honrar os compromissos assumidos, economizando cada centavo amealhado. A se confirmarem a previsões, teremos mais um ano atribulado. Porém, depois da tempestade o sol voltará a brilhar novamente e de uma forma ou de outra, sobreviveremos a mais essa crise. Até lá, a dúvida persiste: como será o amanhã? Responda quem puder...