Viola na parede

Ninguém é culpado de nada. Ninguém. Não estou no meu melhor momento, estou apenas querendo ficar sozinho, em silêncio.

Há poesias? Sim, sempre haverão, e, claro, em momento certo nascerão. Nem Maria nem João são obrigados a me tolerar. A viola do lado de cá anda tocando meio desafinada. Coisas do tempo, da sensibilidade, talvez as mãos não estejam obedecendo aos comandos tão bem, como deveriam. Há rancores adormecidos, empobrecimento dos sentires.

Saudades? Algumas, dos que realmente me fizeram tocar a melhor música, a melhor canção, mas nada que expliquem concisamente tais momentos.

Sensualidades? Não, não são, não as vejo com bons olhos.

Preguiças? Sim, de algumas preguiças que nada me acrescentaram, por isso meus erros tão finamente cometidos.

A culpa é minha, somente minha. Sei dedilhar bem minha viola, quando quero faço-a cantar. É a fase, o momento de esperar alguns acordes se ajustarem por dentro, puxar algumas cordas que insistem no desafino. Não há violeiro ruim. Não há viola ruim.

Há a sensibilidade, os nervos meio que fora do prumo que de mão da viola não sabe bem o que tocar. Meu erro eu assumo e minha viola guardo dependurada na parede para o momento certo. Novas músicas hão de nascer, novos acordes hão de se ouvir, novas melodias hão de ainda serem tocadas.

Em momento apenas mosquitos, bois. Melhor tocar bois e mosquitos do que tocar o fogo nas florestas. Não precisa entender nem se posicionar, apenas compreender que é assumindo os erros e entendendo o meu tempo que poderei reestruturar algumas ruínas aqui dentro. O erro é meu e a culpa também.

Solução? Não consigo enxergar nada além da viola na parede, sozinha e estática, como quem merece uma polida. Há ainda muito caminho pra percorrer, muita água pra rolar, muita chuva pra descer. Enquanto isto, refino a solidão, requento os objetivos e aqueço alguns poucos versos. Quando a viola deverá ser usada apenas Deus é que sabe. Não posso tocar em dó e cantar em ré, fico no descompensado.

A toada merece respeito, afinal, é a música da minha vida.

Daniel Cezário
Enviado por Daniel Cezário em 31/12/2016
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