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Famigerada

Onde está aquele objeto tão útil?
Onde colocaram a famigerada
que me acompanha toda manhã?

Panela vagabunda,
companheira de uma rotina sem fim.

Panelas, papéis, botões... 
Acende e apaga a luz. 
Todo dia eu apago e acendo luzes!
 
Os dias se passam.... 
...Eu vou passar também.

Era tudo tão rápido e incansável, 
e aqui me vejo, também forte, 
mas não tão rápida.
 
O que deixo de meu pedaço aqui nesta casa? 
Os chinelos? 
A família?
 
O que deixo de mim no meu ninho?

Estou com vontade de correr até o fim da rua,
pelada, 
gritando minhas carências,
que é pra ver quem vai me acompanhar.

Aí, sentei cansada para recordar a minha vida
que passou por meus olhos.

Passaram correndo a minha juventude
e o coração forte de desilusões.

E aquele amor perdido que dói fundo, 
como um fado chorando os cravos da terra natal...

Saio do meu corpo e vôo
para o que não posso alcançar.

Mas, está ali tão perto!

Amanhã eu vou ficar pelada e vou gritar!

Vai, mulher!
Viaja, pega força com a vida e volta pra mim.

Mas, agora é hora de encontrar aquela que me carrega...


Pintura: A cozinheira, de Johannes Vermeer







Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 31/07/2007
Reeditado em 26/02/2009
Código do texto: T586830
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