O RELICÁRIO DA VIDA...!
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Tímido e querendo ser aceito pelos colegas de classe da 4ª serie do ensino primário no Grupo Escolar Adalberto Vale, no Morro da Liberdade, assinei relicários de muitas alunas. Assiná-lo era um orgulho para adolescente. Era convidado para assiná-los, mas com a condição que não lesse e nem revelasse os segredos guardados em suas linhas, depois de começar a publicar no jornal O PIRILAMPO, mimeografado pela Escola. Hoje, na virtual e redes sociais, não sei se ainda alguém ainda possua e guarde os versos bobos e infantis que neles registrava. Naquela época, roubar e lê-lo era como se fosse um crime: dava briga, ficava-se de mal, principalmente se revelasse alguma coisa escrito nele. Eram segredos de adolescentes tão íntimos que muitos eram comercializados com cadeados e chaves. Continha segredos inconfessáveis a não ser para o caderno que as alunas levavam à Escola, como se fossem verdadeiras jóias raras. Em suas páginas, tudo o que não poderia se falar, com quase ninguém: relicário era uma espécie de diário pessoal onde se registrava tudo: o nome do primeiro namorado, a decepção que sofria, beijo que dava, a primeira relação que teve e a perda da perda de virgindade etc...Tudo era segredo e só o relicário tinha conhecimento.
E por que estou escrevendo sobre relicário? Porque li e compartilhei da página de uma moça que recebi pelo facebook, uma mensagem que dizia que no passado as pessoas escondiam seus segredos em diários pessoais; hoje, todas fazem questão de expô-los para que outras pessoas curtam e comentem. Gostei e compartilhei essa verdade. Nos relicários que assinava na adolescência, escondia a timidez que me acompanhava atrás de pseudônimos como “J. Junior”, que seria uma homenagem ao meu avô paterno, José Raimundo Torres, ou “O Solitário”, quando me sentia isolado “CaralbecBetania” e muitos outros. Aos 19 anos, ao ingressar no jornal A NOTÍCIA, em 1979, passei matérias, crônicas e poesias com o nome de CARLOS COSTA.
Historicamente, relicário é um objeto para guardar relíquias de um santo, definido pelo II Concílio de Nicéia em 787. Ele antes da era virtual, também era utilizado por muitos adolescentes para guardar seus segredos, relíquias e revelações de adolescentes, em diários. Contudo, o que era para ser apenas um objeto para colocar relíquias da Santa Cruz ou dos corpos dos santos e beatos definido pelo II Concílio de Nicéia em 787. Na era do facebook e redes sociais, ninguém guarda mais segredos de nada. Quanto mais expor e se expor, mais curtidas e comentários receberem, mais popular se tornam. As jovens de hoje passaram a fazer caras e bocas para fotos quase sempre na frente de um espelho e postam e, mudam a foto do perfil no facebook quase todos os dias.
-Quer retirar meu nome por quê? Perguntou Josefa Costa, quando leu a primeira matéria assinada em A NOTÍCIA, com o nome de Carlos Costa. Ela leva também Bezerra em seu nome! “Não estou tirando nome de ninguém. Estou assumindo um nome pelo qual desejo ficar conhecido no futuro”, respondi. Hoje, se as adolescentes do passado, atualmente mulheres com mais de 50 que me davam a honra e o prazer de escrever poemas bobos em seus relicários ainda os guardarem, terão a certeza de que sempre assinava meu nome Carlos e depois um pseudônimo. Porém, acho suas filhas ou suas netas, também foram contaminadas pela era virtual e ainda façam caras e bocas para fotos em frente de espelhos, usando batons de cores fortes, jogando beijinhos na frente de espelhos, arrumando cabelo ou cobrindo o rosto com um celular na mão... Não é porque as crônicas que publico, estão sendo lidas em diversos países que me tornei diferente de qualquer um dos que me acompanham pelo facebook. Talvez tenha me tornado mais solitário, exigente ou mais perfeccionista. Contudo, ainda e sinto saudades da adolescência e de me ver assinando em relicários minhas bobas recordações...O passado não volta!