Ainda há uma noite.

Hoje parei e me deparei com uma situação de pasmo e reflexão, o momento era propício para um bom vinho e algumas lembranças. Contudo as horas não colaboravam e muito menos o espírito que se apossava de alguns pensamentos insólitos, dominando a sala e a boa música que sem muita atenção fazia sua parte e por muito se esforçava com coragem em busca de um conto que atraísse a desatenção que pairava. Na madrugada de um verão sem estrelas assentado vagava no passado, e cultivava a expressão de querer ter apenas uma nova oportunidade para fazer algo diferente, com as mesmas pessoas sem as velhas intenções inventadas por um homem que só existia na embriagues de meus desejos, insanos em algumas vezes, mas determinado em ser forte. Corajoso e louco nas andanças e covarde quando a historia estivesse ameaçada.

Tentei fugir desta viajem a qual o destino reservou, mas parecia impossível lutar contra uma força iminente que se manifestava em minha decadência já corrompida pelo auge de um corpo batido e abatido, escondido e escolhido pela inconsequência dos atos sem atitudes. Se ao menos tivesse avisado! Mas quando você se torna o próximo de uma lista que pode atrasar, mas que de certo virá, não existe muito que fazer, muito menos para onde ir, e ainda que alguns poderes mortais estejam em suas mãos, todos se tornam miseráveis comparados à execução primária prestes a acontecer.

Uma noite morta pelo silêncio, nem o vento tinha forças para que os galhos do salgueiro cantassem sua melodia boêmia. Procurei na varanda um bom lugar para assistir o filme que iria começar. Com certo atraso em sua estreia, sem muito custo, mas com um grande preço a ser cobrado, não pelo cabernet envelhecido em uma ditadura sem princípios morais e que aprisionavam os seresteiros sem seus atestados ideológicos. Uma liberdade aprisionada em livros e cantatas, guardada no coração de um mundo sem cor.

Que saudades da polca que seguia de esquina em esquina em sambas imortais e choros marcados pelas lágrimas da opressão. Quantos sangraram e sangram até hoje trazendo as marcas de erros nossos e dos senhores da verdade. Mas onde esta a verdade? Procuro no arquivo da minha sanidade respostas para tantos anos de vida, de mentiras e de uma ideologia irreal, de festivais mortos pelas letras sonhadoras de iletrados aprisionados em nossas próprias fronteiras por castelos não tão brancos, excluindo nossos Herzogs e calando nossos Chicos e Caetanos.

Cristiano Stankus
Enviado por Cristiano Stankus em 30/12/2016
Reeditado em 30/12/2016
Código do texto: T5867687
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