Meu sobrinho sensível
Meu sobrinho sensível
Tenho vários sobrinhos. Por linhagem direta, indireta, de afinidade. Curiosamente, três dos meus sobrinhos, genealogicamente, na realidade, são primos. Coisas do coração!
Os sobrinhos que nascem do sexo masculino são machos. Aliás, as criaturas vivas que nascem masculinas são machos, isto é, são viris, fortes, agressivos. São características genéticas.
Sensibilidade também é genético, mas, ainda que possa ser influenciada por hormônios, enzimas, ou seja lá o que for de natureza biológica, a sensibilidade não tem sexo!
Sensibilidade é a ferramenta que a criatura viva utiliza para relacionar com o universo. Tem uma porção biológica para lidar com as sensações de calor, umidade, visão, audição, tato, olfato, paladar, etc., essencial para evitar os perigos da natureza; e uma dimensão psíquica envolta com as questões emocionais, do gostar e ser gostado, protegem contra os riscos da ambiguidade nas relações afetivas. Esta maneira de conceituar a sensibilidade insinua que ela é um mecanismo de defesa do ser vivo!
A parte bioquímica da sensibilidade é herança genética, enquanto a dimensão emocional é herança cultural, vai sendo construída e transmitida às gerações em longos e duradouros processos de aprendizagens históricos.
Especulando, a humanidade ao evoluir se libertou do jugo da genética, deixou a uniformidade e passou a cultuar a diversidade. O exemplo é do arquiteto João de Barro, faz casas sempre iguais, em Gurinhatâ-MG ou Peçanha-MG, enquanto o arquiteto humano, expande as possibilidades da construção à limites inimagináveis!
A humanidade livre da genética torna-se escrava da cultura. E a cultura que conhecemos, desde que o mundo é mundo, é a cultura do macho: viril, forte, agressivo. Para manter a supremacia agregou à parte emocional a arrogância, a prepotência, o autoritarismo.
Ficou completo o espécime masculino da humanidade.
Uma das minhas filhas, neste Natal, acrescentou o “covarde”.
Não concordo com ela, mas acredito que ela quer dizer que o macho, além de tudo, é desrespeitoso com as fêmeas em seus relacionamentos afetivos. Corporativamente, prefiro considerar o macho medroso!
Superar a imposição cultural da macheza é doloroso e demandará muitas gerações. No caso de uma vida, leva anos para um exemplar masculino consiga abandonar o status de macho e se transforme em Homem.
Outro dia minha sobrinha prima confessou, “que lindo primo, você me fez chorar”, sensibilizar com coisas simples do dia a dia, uma amizade nova, a tristeza pela partida, o interesse pelo outro. Minha sobrinha prima é sensível e é Mulher!
Meu sobrinho, no Natal, mostrou a face da sensibilidade. Declarou o tanto que admira a natureza, a beleza de uma corredeira no Pantanal, o quanto é delicioso lutar com um peixe, deste tamanho, e se vencê-lo, respeitosamente, soltá-lo nas águas do rio. A emoção de banhar o filho nas fontes cristalinas da fazenda após uma cavalgada. O quanto é romântico deitar e olhar as estrelas, fazer um pedido, ao surpreender uma delas se desprender e cortar o firmamento... ah! Como é emocionante a conversa com os amigos; e num devaneio voltar o pensamento para as namoradas...
É, meu sobrinho é sensível... e macho!