CARTAS DE AMOR 2
Emoções
Cartas de amor 2
"Escrevo por essas mal traçadas linhas"... Era assim que, antigamente, começava-se a escrever cartas, principalmente, as de amor. Eram cartas perfumadas, emocionadas, onde se embutiam uma coleção de sentimentos, de emoções. Vinham muitas banhadas de lágrimas, outras cheias de anseios, de suspiros retidos, de amores guardados, escondidos, que não puderam ainda ser revelados. Eram ramalhetes das mais lindas flores, com corolas multicores, exalando amores, só para sentir nas suas cores , suas dores pelo silêncio dessas flores...
Cartas de amor, relicário de emoções que se extravasaram no silêncio dos seus amares. Quando a coragem faltava para revelações, nas cartas eram aliviados todo aqueles sentires, nos silêncio dos corações. Essas cartas poderiam ter sido escritas por mim, por ti ou por qualquer pessoa, porque eram apenas cartas de amor. Palavras que, na sua essência, foram bordadas , delineadas, pintadas pela emoção do momento.
Muitas delas foram escritas, não enviadas, e se amarelavam nos baús das saudades. E, envoltas nas suas próprias sombras, matizadas pelas suas nuances de amor, perfumadas com odores de uma linda flor, ficavam sozinhas, tristes, abandonadas. Cartas no ciume, na esperança, também são cartas de amor, de um amor sofredor, indagador, que ainda tinha mistérios a esconder, a salvaguardar, a revelar, como se fosse o maior tesouro, a mais valiosa jóia que trazia no seu peito, repleto de tanto amor.
Se pudéssemos analisar as emoções contidas nessas cartas, seria uma quantidade que nos perderíamos nesse mar de anseios, de saudade, de afeto, de melancolia até, pois nesse sempre oceano encantado boiam, nas marolas dos nossos quereres, ondas espumosas, tépidas, geladas tambèm que navegamos, que nos completamos nos nossos devaneios.
Exalam sempre odores angelicais. demonstrando que todos os perfumes do mundo não caberiam dentro desses vapores, de tão singulares que são, na pluralidade do perfume -vida, do perfume-alma e da essência-coração, que nos abençoa, que nos afaga e que nos seduz.
E as cartas de amor recebidas? Tantas promessas, tantas esperanças, tantos "eu te amo", que nos fazem ficar. Ficar sempre na espera. Ficar sempre na ansiedade, no desejo da verdade, ficar ficando... Ah! Doloroso ficar! Dolorosa espera do tudo e sempre do nada que oferecem. Mas se a vida é uma ilusão, que fiquemos sempre, eternamente, na expectativa do acontecer. Enquanto isso, vivemos na lástima, na esperança que já voou para outras paragens, sem rumo certo, sem saber aonde vai pousar.
Cartas de amor, rasguei-as, não as tenho mais. Por que ficar com elas, na nossa solidão de amor, tropeçando nas juras que nos encantaram, nos ferimos, que foram o marco da nossa vida, da nossa eterna paixão? Recordá-las para de novo nos envolvermos em dor? Prefiro, todas aquelas que não foram cartas e sim adeus, incinerá-las no meu coração e, nas cinzas que possam restar, doá-las ao esquecimento e à solidão.
Que as palavras de certas cartas fiquem indeléveis no nosso coração, dando-nos saudades carinhosas, sempre aquela que nos fizeram vibrar de emoção, nas nossas recordações.
Amor, a quanto obrigas? A um mundo encantado de realizações, ternura e afeto...
Mesmo sem as enviar, escrevamos cartas de amor. Deitemos em palavras o que nos sufoca, nos enleva, num segredo-coração, sem razões, sem porquês, só o que o amar vale...
Maria Myriam Freire Peres
Rio de Janeiro, 24 de janeiro de 2005