FRESCURA

A manhã raiara,e na rua daquela vila vidas pincelavam a calçada.

Encontros,acenos,sorrisos,gente que ia,gente que vinha...

Alguns diálogos em tons amistosos.

Bom dia! dona Serena,como tem passado?

-Bem!,muito bem.Melhor ainda com esta aragem suave este vento fresco.

Olá comadre Maria Cachoeira!Sempre bonitona e cheirosa.Que perfume é este?

-Água Fresca! comadre...Do Boticário! Leve,refrescante,campestre...

Legítima! Aquela do frasco em formato de ânfora.

Passa o vendedor de alfaces empurrando a bicicleta:

-Olha a alface!!! Olha a alface!!!

São frescas? Indaga Seo José do Riacho.

-Fresquíssimas!!! Senhor Riacho.Fresquíssimas!!!

Colhidas antes do nascer do sol.Guardam ainda as gotas sagradas dos orvalhos matinais.Destas madrugadas de rajadas mansas,garoas finas,serenos ligeiramente frios,canteiros sonorizados à galos e sabiás.

Rompe-se mais uma janela:

Dona Tereza Outonal,enquadra-se no retângulo de madeira,apoia o generoso par de seios na soleira,abre um leque e fatia o ar com seu cheiro de "Fresh Lavender".

Um vento carregado de odores arrasta-se pelo trecho empurrando o jovem esguio de cabelos besuntados à gel "Fresh Whater" que circula altivo,quase saltitante sobre as pedras irregulares.

Na casa da esquina,Seo Esculápio das Chagas,que costuma assuntar de sua janelinha o burburinho da rua,acaba de torcer seu palheirinho.

Tendo ouvido tôdas as louvações à manhã raiada,confabula com seus botões:

-Virgem Maria! Quanta frescura em tão pouco tempo!

Vou tomar meu cafézinho rsrs...

Joelgomesteixeira@hotmail.com