A MESA DE ESTUDOS NA REPÚBLICA DE CURITIBA
A MESA DE ESTUDOS NA REPÚBLICA DE CURITIBA
Antes de iniciar a história deixo bem claro que não tem ligação nenhuma com política, exceto o nome. República, como todos sabem, serve entre outras coisas para denominar casa onde habitam várias pessoas, notadamente estudantes. Em meu primeiro ano de engenharia na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, eu outros quatro estudantes alugamos um apartamento no 2º alto da rua XV de Novembro. Eu, Antonio Carlos Lins, Branquinho (Antonio Aluotto), Jackson e Roberto Sanches. O Roberto era Presidente Prudente, e os outros de Santos. Era um imóvel simples. Quarto sala, banheiro e uma pequena cozinha. Todos de família classe média, conseguimos mobiliar o local com um mínimo de móveis. Mas a grana não deu para comprarmos uma mesa para a sala, que ficou apenas com uns banquinhos. Próximo ao prédio havia um terreno baldio e nós esperávamos o ônibus na frente desse local. Certa manhã, vimos que no meio do terreno largaram uma placa de compensado marítimo grande e em ótimo estado. Recolhemos o precioso objeto e deixamos na sala do apartamento, que ficou totalmente ocupada. À tarde, compramos umas ripas e serrote. Fabricamos uma enorme mesa, onde todos os cinco poderiam estudar. Depois de muita discussão, foi definido que a mesa seria loteada em cinco áreas demarcadas a tinta com o nome do usuário.
Começado o período de provas, a utilização da mesa foi intensificada e pilhas de livro e cadernos se amontoavam em cima. Eu trabalhava como técnico de natação no Círculo Militar do Paraná e pouco utilizava o meu “lote” na mesa. Todos os dias ocorriam pequenas discussões devido os limites de cada área da mês não estar sendo respeitados. Ao sair para trabalhar à tarde, os ânimos estavam se exaltando, cada um acusando o outro de utilizar a área que não era sua, e que assim não era possível, e coisas que tais. Fui ao clube e retornei ao apartamento já de noite. Na entrada do prédio encontrei o Leonardo, um japonês vendedor de produtos farmacêuticos e vizinho nosso, que me reportou haver uma briga durante a tarde e até reclamou do barulho que meus companheiros de república fizeram. Entrei no apartamento e não acreditei no que vi. Depois de quase brigarem por causa das áreas da mesa, resolveram o problema serrando-a. Surpreso, comecei a rir muito da nova situação. Haviam cinco pequenas mesinhas na sala, cada uma com o nome do proprietário.
Coisas de estudantes.
Paulo Miorim
28/12/2016
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