UM BOM SINAL
 
     Mutum é muito ruim de sinal. Seja qualquer sinal, Mutum não tem. Por aqui nesse canto de Minas, que nem Minas e nem Espírito Santo parecia querer a cem anos, semáforo é chamado de sinal. Sinal de trânsito.
     Certa vez publiquei no jornal que eu e um amigo chegamos a editar sugerindo, na coluna de humor, Coluna do Biruta, que se colocasse um “sinal” ecológico em Mutum. Um burro nos entroncamentos de rua. Por exemplo, quando a orelha direita do burro abaixasse, os carros descendo pela Antônio Carlos parassem e os que iam da Benedito Valadares para a Getúlio Vargas seguissem e assim mudasse quando fosse a orelha esquerda do burro a abaixar.
     - Como assim? O cronista não vai dizer avenida, praça, rua?
     - Não, não vou dizer. Quero que fique parecendo crônica de gente grande que escreve sobre cidade grande.
     Aí algum dia, o prefeito colocou um sinal de verdade. O povo começou a se educar. Muita gente adquiriu carro e o trânsito no centro realmente precisava de uma regulação. O sinal, que é o semáforo, funcionou por algum tempo e depois pifou.
     Outro tipo de sinal que não pega bem em Mutum é sinal de celular. Aqui tem Vivo, Claro e Tim. Em volta de Mutum todo mundo é Oi. Pocrane, Ipanema, Lajinha, é tudo Oi. Mas em Mutum ninguém fala Oi. E os sinais que se têm por aqui não funcionam. A Vivo fica mais morto que vivo. A Claro escurece de uma hora para outra, eclipse total na telefonia. E a Tim? (O cronista não tem uma gracinha pra Tim.) Não tem como fazer Tim-Tim por celular aqui. (Talvez essa funcione). Mas a verdade é que Mutum é péssimo de sinal de celular.
     Sinal de internet? KKKK. Parece mais tartaruganet. A Velox por aqui é muito devagar, e a nossa internet local, a IZI, hora boa, hora não tão boa. E assim a gente vai vivendo conectado vagarosamente.
     Sinal de Tevê. Lembro-me quando era somente Globo. Todo dia era globo. O jornal era somente o Nacional. Não adiantava ter controle remoto, era um canal só. A antena podia ser das melhores, mas aquela espinha de peixe resolvia o problema. Aí veio aquela como se fosse duas anteninhas de rádio. Precisava de um Bombril nelas para melhorar. Roque Santeiro teria que fazer um milagre qualquer para a gente ver melhor a Cláudia Raia.
     Foi aparecendo o SBT e Sílvio Santos foi ganhando nossos domingos. O homem do Baú da Felicidade nos enchia de ilusões. A Bandeirantes apareceu e trouxe mais esportes. Lembram do campeonato japonês?
Mas o sinal? As torres lá do morro eram controladas, ou descontroladas? Há quem dizia que o rapaz responsável pela torre tirava os canais do ar quando bem lhe convinha.
     Depois vieram as parabólicas e trouxe mais sinais, ainda assim o Canal do Boi e outros, como o Esporte Interativo deixava a desejar. Mutum, mesmo com parabólicas, tinha um sinal meio paranoico.
     Veio a Tevê por assinatura. Não entrarei no mérito da pirataria. Mas basta menção de chuva na região, raridade em 2015, mas melhorou um pouco em 2016, na previsão do tempo que ocorre perda de sinal.
     Mas está tudo ruim em Mutum? Não, como em Mutum a gente nunca pega sinal nenhum, então não veremos os Sinais do Tempos. O Mundo vai acabar no mundo todo, exceto em Mutum, onde estaremos sempre vagarosamente caminhando. Sem sinal algum, mesmo quando forem os sinais dos Tempos. E isso é um bom sinal.

 
Cláudio Antonio Mendes
Enviado por Cláudio Antonio Mendes em 27/12/2016
Reeditado em 27/12/2016
Código do texto: T5865028
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