NATAL INESQUECÍVEL
Era véspera. Mal tínhamos de cear, toca a campainha. Fui atender. Era uma senhora de meia idade, morena, simpática, razoavelmente trajada. Acompanhava-a duas crianças: um menina, uns 10 anos; um menino, 5 anos. Ambos com traços orientais. A mãe, não. Ela explicou que morava em Birigui e soube que o marido voltara do Japão onde tinha ido trabalhar e ficara em Lins, acompanhado de outra mulher. Viera atrás dele, mas não o encontrara. Não quis dizer o nome. Só pediu auxílio para a passagem de volta. Ajudei com boa vontade e mais do que o suficiente. Chateado com a história, nem lembrei-me de perguntar se estavam com fome.
Propus levá-los até a rodoviária. Recusou alegando que iria passar ainda em algumas residências para pedir auxílio. Antes de despedir, perguntou-me se não queria adotar o menino. Demorei a responder ante a absurda proposta. Mas disse-lhe que aquele não era o momento nem o local para discutirmos um assunto grave como aquele. Que tal falarmos mais tarde? Busquei e entreguei-lhe o meu cartão, pedindo que entrasse em contato que a procuraria, então. Nunca mais retornou. Perguntei a diversas pessoas daquela cidade, mas ninguém sabia da história.
Todas as vezes que esse fato vem-me à lembrança, sinto um frio na barriga.