PRISÃO CIRCUNSTANCIAL!

Inconformado com a situação, Dr. Celso observa a sua volta os quatro cantos daquele ambiente, de paredes bem próximas, o teto a pouca altura, podia tocá-lo estando em pé. Apesar da pouca luz, pelo tamanho dos ladrilhos dava para calcular a área daquele pequeno recinto, ficava pensando como pode os seres humanos permanecerem encarcerados por dias, meses e anos a fio em espaços similares aquele, condenados em prisões, sabendo que parte de suas vidas passariam confinados naquele lugar, pagando pelos seus atos ilícitos contra a sociedade.

Advogado competente, bastante influente, já conseguira livrar várias pessoas desse infortúnio, sendo estas inocentes ou não, o que em nada lhe incomodava. Era o seu ofício, em nome do profissionalismo, fechara os olhos a ética e as injustiças sociais, e assim conseguia ter o sono dos justos.

Meditava enquanto estava naquele lugar, obrigado por circunstâncias emergenciais, nada podia fazer, teria que cumprir o seu tempo, não estava nos planos a “Parada no Box”, aconteceu de repente, quando vinha pela rua no meio da tarde, após visitar um cliente, estando de volta ao escritório para o segundo expediente de trabalho. Não daria tempo de ao seu escritório, não teve como procurar outra opção.

Já estava agoniado, sem saber quanto tempo mais permaneceria por ali, exausto, suava bastante, tinha ainda que aturar aquele odor, comuns à ambientes celas de confinamento, onde se encontrava com os principais clientes. Com o tempo passando, ficava cada vez mais insuportável o mal cheiro, usava as mãos para abanar o rosto para amenizar o calor.

Ninguém poderia lhe substituir, salvá-lo daquele tormento, teria que cumprir a obrigação momentânea. Pela fresta da porta entrava alguma claridade, podia também ouvir “chuvas e trovoadas” e até alguns gemidos de pessoas bem próximas, que se encontravam na mesma situação, condenados à própria sorte. Por vezes ouvia passos “estreitos” e apressados de pessoas, que chegando, mexiam na maçanetas, das portas, davam uma espiada indiscreta, saindo em seguida resmungando, após ouvir um xingamento, dos ocupantes do local.

Tira a camisa, passa no rosto para aliviar a quentura e enxugar o suor, aos poucos vai ficando aliviado do desconforto. Pensa na feijoada do almoço no restaurante self-service, talvez tenha se excedido um pouco, e o feijão devia está requentado junto aos ingredientes, mas o pior já passou, mais relaxado, usa o resto do papel que estava perto.

Veste a roupa, ajusta a gravata, com a cabeça fora da cubículo, respira profundamente o ar puro. Sai assobiando disfarçadamente por entre as pessoas que esperavam a vez de usarem aquele “W C” público.