FEIRA LIVRE!
No meio da manhã lá estava, após abrigar-se da chuva sob a lona de uma barraca saíra por entre os transeuntes, de pano na cabeça para proteger-se no tempo frio, da brisa leve que soprava. Já se acostumara a tanta gente, num vai e vem inquieto, mais parecia um formigueiro.
_Bananas, “dúza” e meia por três reais!
_O que? Duas bananas e meia por esse preço? Isso é um roubo!
_Não freguesa, a senhora entendeu errado, é uma dúzia e meia por três reais. Respondeu com paciência o vendedor.
_Mas, mesmo assim, ta o olho da cara!
_É banana prata freguesa.
_Nem que fosse de ouro, não compro!
Saí resmungando.
_Maçã macia Dona Maria!
Olha rapidamente para o barraqueiro como se só houvesse uma “Maria no mundo” hesita por um momento, normalmente era chamada de Zezé, envolta em pensamentos, matutava na longa caminhada que teria de fazer de volta para casa, levando as sacolas de compras, procurava ver um moleque que às vezes lhe ajudara em troca de alguns centavos, não arriscaria chamar um estranho, da última vez que o fizera, recebera uma semana de bronca, da patroa, ao ficar sem algumas delas quando o menino com cara de bonzinho desaparecera na primeira esquina.
Distraída, levou um grande susto quando alguns caranguejos saídos de côfos roçaram seus pés, aos pulos quase tropeça num fogareiro fumegante, que fazia ferver um caldeirão de sarapatel, o quebra jejum dos feirantes, quis soltar um palavrão, mas o engoliu deixando impregnar-se pelo convidativo cheiro da iguaria, que destacava-se entre tantos outros: de frutas, verduras e legumes frescos. Prometeu que ao terminar as compras, se sobrasse algum, iria saborear o petisco, temperado obviamente com algumas gotas de pimenta vermelha, acompanhado com um punhado de farinha de puba. Caminhando naquele labirinto, por vezes escapava de um banho, quando alguém por descuido tocava com a cabeça a cobertura plástica das barracas onde ficara acumulada água da chuva.
_“Ô” viúva boa!
Alguém fala alto. Chama-lhe a atenção àquelas palavras.
_Respeito é bom e eu gosto seu moleque!
Esbravejou dona Zezé, em um tom de ameaça contra o jovem feirante que rapidamente se desculpa:
_Falei ovo o e uva boa, minha senhora!
_Você é muito atrevido! E não sou sua senhora, procure o seu lugar, ora essa! Não respeitam mais as pessoas mais velhas!
_Isso mesmo, é um bando de mal educados!
Confirma um senhor de guarda-chuva na mão, em sua defesa. Momentaneamente pensou no falecido marido, que esteve sempre ali ao seu lado, mesmo quando reclamava pela incômoda fumaça do seu cigarro, e pelo forte cheiro de cachaça da terra, vícios que lhe eram peculiar.
Seguindo após a barraca de bucho de boi, avistou vários paneiros de camarões salgados, não hesitou em pegar um dos maiores deles, saiu comendo apesar dos protestos do vendedor, afinal, um a mais ou a menos não iria fazer falta. De sacolas nas mãos, após comprar o feijão preto, entrou no açougue do seu Joaquim onde já havia reservado parte de costelas, orelhas, mocotós e rabos de porcos, ingredientes indispensáveis para a suculenta feijoada do final de semana. Por certo daria ainda uma paradinha para um café, na banca da comadre Marilda, de quem era freguesa assídua, pela grande variedades de bolos, tapiocas, cuscuz de milho e de arroz amanteigados, cobertos de coco ralado, que faziam brilhar os olhos e enchiam a boca de água.
Era grande a agitação das pessoas, aos berros cada vendedor disputava a freguesia, que aos poucos ia esvaziando a feira.
Chegara a hora de finalizar as compras, encostada numa barraca, pega na bolsa o resto do dinheiro, seguindo as recomendações da dona da casa, se junta ao pessoal da “xepa”, para “botar preço” no que sobrara nos tabuleiros: laranjas, mangas, abacates, mamões e bananas, já um pouco amassadas pelas pessoas que contrariando os feirantes insistiam em dar uma apertadinha para conferir a qualidade das mesmas.