Eu gosto de você Papai Noel!

Eu gosto desse seu jeito de fazer as crianças, por mais singelas que sejam, independente de raça ou condição social, sonharem que existe bondade no mundo. Eu também gosto do seu papel de transformar, por um momento que seja, os adultos em Papais e Mamães Noéis. Se os pais ricos soubessem o desvelo que você tem pelos humildes, pelos carentes, pelos abandonados eles doariam e fariam as crianças pobres mais felizes. Talvez você nem se lembre, mas eu cresci e me tornei rapaz, sem nunca esquecer daquilo que me aconteceu. Eu lhe escrevi uma carta pedindo o meu presente… a noite inteira eu esperei dormindo… No dia seguinte chegou o sol, e pelo chamado da mamãe, o café e o beju, mas o meu presente não chegou. Fiquei triste, mas fui pro quintal brincar com os meus carrinhos que eu mesmo fazia. Senti sede, e ao entrar em casa pra tomar água, ouvi soluços. Era minha mãe de joelhos ao pé do altar na mesinha do santo, como nós a chamávamos, dedilhando o terço preso em seu crucifixo. Minha mãe rezava consigo e ao notar-me disse, “toma filho, segura o terço!” Eu via, ela tentava disfarçar as lágrimas com as mãos quando lhe perguntei por que chorava. “Estou pedindo pro Papai do Céu, meu filho”, respondeu. “E ele já te atendeu, mãe?” "Ainda não, filho!" E eu insistia, “o Papai do Céu conhece o Papai Noel”. E minha mãe atendendo à minha inocência, esclarecia, “filho, o papai do céu é o pai do papai Noel”! Então acalentei minha mãe: “mãe, fica com raiva do papai do céu, não!" Eu inocente e alegre, não sabia, embora comesse todo dia, há muito a comida tinha acabado. “Bate o sino pequenino sino de Belém, já nasceu o Deus menino para o nosso bem!”… vinha da rua trazido pelo vento, cantarolado e acompanhado do bimbalhar do sino lá no presépio da igreja de Senhora Santana. O meu pai há muito tempo estava na cidade grande e de lá mandava o nosso sustento… o insuficiente que não dava pra pagar a quitanda. Há três meses não mandava nada, nem notícias. Mamãe estava com medo do pior. Na minha rua eu via umas crianças brincando correndo tocando um pneu velho de bicicleta. Outras empinando papagaio… outras com seus cavalos possantes feitos de palha da carnaúba… e outras brincando de fazendeiros com seus bois de fruto da mamorana. Eu não tinha o que me queixar com os meus carros de talas de buriti, e todos os brinquedos que esses meus coleguinhas tinham, eu também tinha. Veio a tarde, e à noitinha fui dormir cedo. Minha mãe beijou-me o rosto e falou: “filho, fica chateado com o Papai Noel, não”. E eu adormeci. Mas tarde, dormindo, senti como que meu pai me beijasse o rosto também. O resto eu só pude compreender depois que cresci e vi as coisas com a realidade, ouvindo a minha mãe e contando do meu pedido. E entendi que minha mãe foi atendida, e ela ficou sabendo que eu recebera o presente. De fato, meu pai chegou à noite, beijou-me e não quis me acordar. Papai do céu atendeu ao pedido de minha mãe que queria notícias de meu pai. Na minha carta eu pedia pra ver e abraçar meu pai, pois estava morrendo de saudades, e você, papai Noel, deu-me como presente. Foi você, Papai Noel, que me transformou num homem reto, íntegro e de coração manso vindo lá da infância. Na minha humildade pueril, na minha carência financeira, com o pai distante, não me faltou afeto. Quanto a brinquedos, eu já sabia, e hoje mais ainda, nunca senti carência, pois o Papai do Céu deu-nos pela inocência, a felicidade de criar e de brincar. Afinal, dos presentes de um menino pobre, sempre haverá o que sobre, a uma criança rica, se os pais forem nobres, na noite de natal.

Obrigado Papai Noel.

HELDER C ROCHA
Enviado por HELDER C ROCHA em 27/12/2016
Reeditado em 11/04/2019
Código do texto: T5864191
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