PRESÉPIO: cenas urbanas
Presépio, um curral ou estábulo, cena com figuras bíblicas que a tradição na época natalina monta em referência ao nascimento da primeira personagem do cristianismo.
É o espaço urbano um centro também de cenas; um teatro. Por isto um presépio vivo e pungente, que desperta sentimentalidades por suas figuras urbanas.
Dezembro tropical chegou trazendo suas frias, finas e melancólicas chuvas. E a gente toda fica mais sensível e perceptível ao outro: Cenas Urbanas.
***
Cena I
Na calçada do santuário havia diversos cães: cachorros e vis.
Entre tantos um cão gordo alimentado pelas sobras dos que têm moradia, emprego, cargo público, e um mendigo com sacos de tralhas e quinquilharias – seus pertences únicos e sagrados. O homem maltrapilho e ossudo afagava a cabeça do animal que teve melhor fortuna que ele. O ato lembrava quadros religiosos: São Lázaro repleto de chagas lambidas por cães vadios.
Cena II
Adiante, vencendo a multidão que lhes iam ao encontro, um casal de deficientes visuais. Braços cruzados – muleta um do outro – e nas mãos livres empunhavam suas bengalas tateando o chão. Nas caras, máscaras de sofrimento: olhos vazados, dele, e cobertos de cataratas, dela; davam-lhes um aspecto bizarro e aflitivo quase gerando repugnância. Iam empurrando e sendo empurrados vencendo assim a vida e a todos.
Cena III
Na galeria do centro comercial que dava acesso às lojas e ao restaurante estava assentado taciturno o velho cansado de viver. Seu olhar fixo no chão denotava uma mente cheia do nada e lotada de vazio. Era a alegoria da Solidão.
Cena IV
A garoa molhava a todos desrespeitando os guarda-chuvas.
Na murada da cornija dezenas de pombos de pernas carcomidas se equilibravam tentando se esconderem naquele detalhe arquitetônico do palacete. Metros dali, no umbral do santuário rococó, indigentes se abrigavam do vento que empurrava as gotículas para todos os lados em uma dança cruel. A porta da igreja se abria para um recinto escuro: era a Piedade.
***
Estas foram cenas pinçadas de um grande curral urbano com seu comércio vibrante e barulhento e que lucra indiferente às pessoas que ele marginaliza por não poderem comprar.
É Natal e seus preparativos.
Presépio, um curral ou estábulo, cena com figuras bíblicas que a tradição na época natalina monta em referência ao nascimento da primeira personagem do cristianismo.
É o espaço urbano um centro também de cenas; um teatro. Por isto um presépio vivo e pungente, que desperta sentimentalidades por suas figuras urbanas.
Dezembro tropical chegou trazendo suas frias, finas e melancólicas chuvas. E a gente toda fica mais sensível e perceptível ao outro: Cenas Urbanas.
***
Cena I
Na calçada do santuário havia diversos cães: cachorros e vis.
Entre tantos um cão gordo alimentado pelas sobras dos que têm moradia, emprego, cargo público, e um mendigo com sacos de tralhas e quinquilharias – seus pertences únicos e sagrados. O homem maltrapilho e ossudo afagava a cabeça do animal que teve melhor fortuna que ele. O ato lembrava quadros religiosos: São Lázaro repleto de chagas lambidas por cães vadios.
Cena II
Adiante, vencendo a multidão que lhes iam ao encontro, um casal de deficientes visuais. Braços cruzados – muleta um do outro – e nas mãos livres empunhavam suas bengalas tateando o chão. Nas caras, máscaras de sofrimento: olhos vazados, dele, e cobertos de cataratas, dela; davam-lhes um aspecto bizarro e aflitivo quase gerando repugnância. Iam empurrando e sendo empurrados vencendo assim a vida e a todos.
Cena III
Na galeria do centro comercial que dava acesso às lojas e ao restaurante estava assentado taciturno o velho cansado de viver. Seu olhar fixo no chão denotava uma mente cheia do nada e lotada de vazio. Era a alegoria da Solidão.
Cena IV
A garoa molhava a todos desrespeitando os guarda-chuvas.
Na murada da cornija dezenas de pombos de pernas carcomidas se equilibravam tentando se esconderem naquele detalhe arquitetônico do palacete. Metros dali, no umbral do santuário rococó, indigentes se abrigavam do vento que empurrava as gotículas para todos os lados em uma dança cruel. A porta da igreja se abria para um recinto escuro: era a Piedade.
***
Estas foram cenas pinçadas de um grande curral urbano com seu comércio vibrante e barulhento e que lucra indiferente às pessoas que ele marginaliza por não poderem comprar.
É Natal e seus preparativos.
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 05/12/2014.
ESCREVA PARA O AUTOR:
conversandocomoautor@gmail.com