DE PÉS NO CHÃO

_ Tá na hora mãe! O táxi chegou, vamos logo!

Chamava alegremente a filha, em companhia do irmão dividiam o peso de uma bolsa, logo atrás seguia a mãe, ainda tentando colocar uns sapatos na mala, com o auxílio da vizinha.

O carro parado na porta dava a confiança que a viagem era certa. O pai já devia ter chegado ao aeroporto, temendo perder o voo, não voltaria em casa, se despedira dos vizinhos e amigos próximos, ao sair para o último dia de trabalho antes das esperadas férias.

O marido, já esperava inquieto na porta de acesso a área do check-in, resmungando veemente pela demasiada demora, a mulher, por sua vez responsabiliza o taxista pela atraso. Ele ajuda apressado a levar a bagagem até o balcão, no guichê da empresa aérea, a funcionária atendeu com prontidão, dois rapazes despacharam as malas e bolsas, enquanto eles dirigiam-se ao portão de embarque. Eram os últimos, já anunciados pelos alto-falantes, alertando sobre o embarque, os demais passageiros já haviam deixado a sala de espera pelo portão 6.

A mãe segurava firmemente as crianças pelos braços, tendo em uma de suas mãos um terço de contas azuis, iniciando uma série de orações, pedidos de graças e proteção a N. Sra. de Fátima, de quem era muito devota.

Seja o que Deus quiser! Esperara tanto por essa viagem, chegara finalmente o grande dia em que veria a terra do alto.

Com a colaboração da comissária de bordo, encontraram os seus lugares, o menino conferiu o número do seu assento, de joelhos no mesmo, colou o rosto na janelinha, queria ver sob as asa os pneus do avião turboélice deixarem o solo, mas, para seu desapontamento a moça, gentilmente pediu que ele sentasse, por livre e “espontânea pressão” atendeu, sendo ajudado por ela a afivelar o sinto de segurança.

A aeronave desloca-se por alguns minutos, após o taxiamento, já no início da pista principal, faz uma breve parada. Senti-se o balançar da máquina, que num ronco potente inicia a “corrida” velozmente, fazendo-os colarem as costa às poltronas, aos poucos sentem deixar o solo. Uma sensação de leveza é percebida, com a ausência de terra firme.

A emoção é imensa, não maior que o medo por sentirem-se literalmente no ar, no experimento tão desejado. Aos poucos umas nuvens mais densas aparecem cobrindo a visão, a aflição dura até o tempo limpar novamente, com céu claro e o sol brilhante, enfim tudo azul!

O garoto conseguiu abrir o cinto voltando a posição desejada na janela, fala espantado:

- Pai! Pai! Olha Pai! Cadê as rodas do avião? Será que “ficou” no chão? Não tô mais vendo!

- Não sei filho devem ter sido recolhidas na hora de voar.

- Mas quem guardou? Não vi ninguém mexendo nelas, será que “caiu”?

A mãe ainda apreensiva, manda o filho se calar sussurrando ao marido:

- Imagine só, avião não precisa de pneus para voar.

Uma meia hora mais tarde, para a alegria de todos é anunciado a distribuição do lanche, as crianças fizeram a festa com os pacotinhos de biscoitos, e outras delicias leves acompanhados com sucos ou refrigerante.

Seis e meia da manhã. Ela abre os olhos devagar, a sonolência sede aos poucos, passa a mão no vidro da janela ainda embaçada, por onde ainda deslizam gotículas de água formadas pelo brisa daquela manhã chuvosa.

Custa a reconhecer aquela imagem nebulosa, passados alguns segundos a sua “ficha cai”. Após dez longas horas de uma noite mal dormida, entre os solavancos no asfalto esburacado, está chegando de volta, após um mês fora de casa para um tratamento médico. É mais uma chegada ao terminal rodoviário de sua cidade.

Uma espreguiçada bloqueada pelo pouco espaço das poltronas do ônibus, ajuda-a a sentir-se inteira, já de pé, pega as sacolas no bagageiro, junta-se na fila aos passageiros sonolentos para a saída do ônibus.

Já na porta da “busão” avista o casal de filhos e o marido lhes acenando as mãos. Retribui alegremente a saudação, ansiosa para o reencontro dos seus familiares queridos.

Mariano Silva
Enviado por Mariano Silva em 23/12/2016
Reeditado em 28/07/2018
Código do texto: T5861772
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