Ela, boa ouvinte. Fui, precisava ir!
isabel Sprenger Ribas.
 
Era tarde da noite.
Eu fui lá porque precisava ir.
Tinha que sair destas tantas coisas por aqui. Aflitivas coisas que não alcanço domínio para impedir. Ocorrem à revelia da minha vontade. Desamam-me!
Tinha que conversar com quem me respondesse, mesmo em silêncio... ou que escutasse o que eu precisava dizer. Era quase Natal.
Eram estes meus desentendimentos por tanta coisa que acontece...
A absurda balburdia moral que acomete o meu país;
O Oriente Médio, loucura total e absoluta entre seres humanos;  
Situações em que a predominância da ignorância faz duvidar da capacidade intelectiva do Homem, quando se deixa levar pela irracionalidade do culto a uma religião que coloca à frente o respeito à vida e o amor ao próximo...

Eu tinha que dizer destas agonias a alguém. Era quase Natal!

Meu sono não chegava, meu corpo empapava de suor, meu raciocínio se embotava.

Eu fui lá porque precisava ir.

Pela escuridão do quarto e das minhas pálpebras cerradas, passava o vídeo de imagens retidas no dia;
De palavras escutadas de alguns;
De agressões desnecessárias;
De um ou outro impropério perdido nos sons das horas que tinham passado;
Da violência no trânsito;
Do assalto que eu presenciara sem poder fazer nada;
Da anciã aleijada pedindo um"trocado";
Da mulher gravida sem conseguir atravessar a rua;
Do cachorrinho atropelado pela velocidade exagerada;
Dos vândalos pixando a parede da escola;
Do menino no semáforo, de olho esbugalhado pela droga;
Do telefone celular no ouvido da mocinha, que quase bate seu carro conversível no velho de bengala...não bate por pouco...

Era quase um pesadelo. Tinha que escapar daquilo.
Era muita coisa. E era quase Natal. Eu não tinha com quem falar!

Eu fui lá porque precisava ir.

Aos pouco meu corpo cansado levitou e novamente caiu. A Alma tentou se erguer com esforço... não conseguia sozinha. Chamou o Espírito.

Leves, agora, etéreos e alados, se encaminharam ao seu destino.
Ela estava lá. Esperava, pálida e linda, roliça de amor fraterno.
Pediu que Corpo, Alma e Espírito se acomodassem em seu regaço.
Era cálido e muito terno. Fofo como todas as Nuvens do Universo.

E disse: “Falem”!
 
Eu fui lá porque precisava ir.
À Lua!
 
 
 
 
 
 
 
 
isabel Sprenger Ribas
Enviado por isabel Sprenger Ribas em 23/12/2016
Reeditado em 23/12/2016
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