NO NATAL, O AMOR ACONTECE

NO NATAL O AMOR ACONTECE

Já faz algum tempo que te procuro, desde os tempos em que deixei de ser um menino e me tornei homem, e assim, eu conheci o amor... Não foi necessariamente um acontecimento lúdico que a gente sente, quando desabrocha em nosso peito o sentimento pérfido do desejo e a explosão incontida dos hormônios faz com que desaguemos literalmente nas águas rasas das emoções e, sentimos que daríamos a vida e algo mais que restasse além dela, somente por um toque de dedos, talvez um abraço ou um beijo ardente o que já seria sonhar demais ou, rever os escritos de um poema que tramasse a grandeza de um amor impossível... Possivelmente, eu que já passei dos sessenta, mas sinto que o tempo passou por mim mais eu não passei por ele e nem deixou em mim tão somente marcas, mais o sonho vivo e real de um grande amor. Aquele que nos faz flutuar sem os efeitos mágicos da levitação, que nos faz sorrir, mesmo quando a dor é insuportável, e que nos faz viver como nunca, assim quando se de nós aproxima a passagem para a eternidade.

Em minhas noites insones, eu já contei os dedos dos pés e das mãos, os dentes que ainda me restam, os cabelos grisalhos que assomam em mim e não são tantos, mas não dormi, então, sonhando acordado como agora, me encontro, na estação do outono quando eu te vi pela primeira vez. Aquele olhar foi como desvendar o destino, não só do meu como também do seu, por isso, faz mais de um século e me lembro de ainda como se tivesse sido no domingo passado. Não sei se o mesmo acontece contigo, pois as mulheres são dotadas de um uso da razão intransferível para navegar sem tropeços entre os acasos da realidade e os sonhos.

A simples ideia do encontro, o teu caminhar pausado pela multidão, a direção reta e sem percalços para mim, o abraço, o teu corpo quente, febril de desejo em contraste com o beijo gelado como a própria morte. O desfalecimento da vida, o amor, o desfecho final de quem se busca e se acha, daqueles que nunca se perderam porque não há lugar nesse planeta ou em outro que se possa ocultar o amor. E eu gostaria de nesse momento embarcar contigo na estação do outono via primavera e que o trem do destino chegasse à estação fria do Alasca e o nosso caminhar sobre o gelo o transformasse em caminhos floridos, deixando os esquimós extasiados quando pegássemos carona no trenó do Papai Noel, puxado por renas aladas e pudéssemos exalar na atmosfera o perfume de flores e derramar sobre a terra uma chuva de pétalas de rosas vermelhas, anunciando assim que: NO NATAL, O AMOR ACONTECE...

Airton Gondim Feitosa