O garçom liberou um sorriso comercial e acumulou em suas reservas mais vinte por cento além da comissão.
— Vais de táxi?
— Meu motorista já chegou. Queres uma carona?
— Não, obrigada! Vou de metrô.
— Não é por acaso que te chamam carinhosamente de ‘a dama do metrô.'
— Gosto de reparar o rosto das pessoas na estação.
—  E queres trocar a cidade por uma ilha desabitada?...
— Vivo numa ilha dentro de um universo de falantes que não me compreendem.
— O homem é uma ilha, se assim o quiser. Que tens a fazer numa ilha deserta? Dirias  para teu filho que há um mundo  perigoso,  depois do paredão das águas? Que depois da muralha existem pessoas que matam seu semelhante  para roubar um  tênis?  Não estarias instituindo a teoria do medo? Talvez tenhas medo da solidão. Neste caso, o veneno é antídoto do próprio veneno. Por isso queres morar numa ilha.
Fez uma pausa. Tomou mais um gole de chá. Olhou para Ravenala que se mantinha em silêncio.
 — Se teu filho perguntar: ‘ Existe outro mundo além deste universo de águas? Não lhe falarias de moda, avanços tecnológicos e outras coisas boas que há no mundo?  Não queiras tornar-se pregoeira do niilismo. Ainda dá para reconstruir sem destruir. 
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Adalberto Lima  - Estrada sem fim...
Imagem: Internet