SOU ÁRVORE DESFOLHADA NO OUTONO, AINDA VIVA ("Os caluniadores são como o fogo que enegrece a madeira verde, não podendo queimá-la." — Voltaire)
Hoje acordei com uma sensação estranha, como se fosse um bicho magro de presépio, ilustrando o Natal de alguém, mas sem sentir a alegria da festa. Lembrei-me de uma cena da minha infância, quando eu subia em uma árvore para tentar pegar uma fruta apetitosa, mas nunca conseguia alcançá-la. Eu me esforçava, me arriscava, sacudia os galhos, mas nada adiantava. A fruta continuava lá, inatingível, rindo da minha frustração. Então eu descia, desanimado, e ficava jogando pedras na árvore, como se isso fosse me vingar.
Essa cena é uma metáfora da minha vida atual. Eu tenho um objetivo, um sonho, uma esperança, mas parece que ele está cada vez mais longe de mim: ser sábio. É como ver o sol se pondo, ou sendo abandonado pelos seus raios. Eu quero me proteger, evitar desperdícios e excessos, controlar a impulsividade, fazer atividades leves, ser cordial com as pessoas. Mas isso não é suficiente para sair do marasmo em que me encontro. O fruto não cai de uma mão beijada.
Então eu pensei: será que estou fazendo algo errado? Será que estou me conformando com pouco? Será que estou deixando de lutar pelo que quero? Será que estou perdendo a fé?
Foi aí que eu resolvi vestir uma camisa verde folha, que eu tinha guardada no armário. Eu gosto dessa cor, porque ela me lembra a natureza, a vida, a esperança. Eu me senti como um tapete de grama, cobrindo o chão das fazendas, fazendo as bestas felizes no campo. Eu pensei que talvez essa cor me trouxesse sorte, sucesso, felicidade. Mas logo percebi que isso era uma ilusão.
A cor verde não é garantia de nada. Ela pode ser usada por ervas daninhas, que sufocam as plantas boas. Ela pode ser usada por árvores artificiais de Natal, que fingem ser naturais e alegres. Ela pode ser usada por pessoas falsas, que se escondem atrás de uma aparência de bondade e virtude.
O que importa não é a cor que eu visto, mas a cor que eu sou. O que importa não é o fruto que eu vejo, mas o fruto que eu produzo. O que importa não é o destino que eu espero, mas o destino que eu faço.
Por isso, decidi mudar de atitude. Em vez de ficar reclamando da vida, resolvi agradecer pelas dificuldades que enfrentei. Elas me fizeram sair do lugar, me fizeram crescer, me fizeram buscar novos caminhos. Em vez de ficar esperando pela compaixão dos outros, resolvi praticar a compaixão por mim mesmo e pelos outros. Ela me fez entender melhor as emoções e as motivações humanas, e também me fez superar o egoísmo e o orgulho. Em vez de ficar preso às minhas certezas, resolvi questioná-las e examiná-las. Elas me fizeram refletir profundamente e honestamente sobre as coisas, e também me fizeram estar aberto à correção e ao aprendizado.
E assim eu descobri que a sabedoria não é algo que se possa obter por um método infalível ou por uma fórmula mágica. A sabedoria é uma jornada pessoal, que depende da minha disposição em questionar minhas certezas, em praticar a compaixão e em cultivar a humildade. Essa jornada fluida me torna verdadeiramente sábio.
E você? Qual é a sua jornada? Qual é a sua cor? Qual é o seu fruto?