E.E.E.F.M.Monsenhor Elias Tomasi

O dia de ontem foi de intensa alegria e de profundas emoções. Através da internet, tomei conhecimento do lançamento do livro comemorativo dos oitenta anos da E.E.E.F.M. Monsenhor Elias Tomasi, de lavra deste grande amigo José Luis Barros, Elizabeth Keller e Terezinha Perciano, que ocorreu no final da semana passada e a que não compareci por ter tomado conhecimento do evento somente alguns dias após.

Mas, imbuído do fervor que me acomete em tais ocasiões, talvez decorrente do profundo amor que ainda nutro por tudo que se refira a Mimoso, cidade onde nasci e passei alguns de meus melhores anos de vida e principalmente pelo fato de que o referido estabelecimento justamente preenche o repertório de minhas melhores recordações, a ele me dirigi com o propósito de adquirir um exemplar, para ser guardado entre minhas mais saudosas lembranças.

Mesmo que sendo desnecessário ressaltar os méritos de tão fortuito acontecimento, fruto do profícuo trabalho desenvolvido pelos autores, entre lágrimas percorri cada uma das páginas, saboreando-as e revivendo os tantos momentos ali vividos, ainda mais ao percorrer os tantos corredores e salas em que vivi durante quase que uma década.

Em minhas memórias, revi o imenso painel de madeira que se observava logo no hall de entrada, com as fotos dos tantos formandos e corpo docente emolduradas; senti falta do sino postado à porta do banheiro masculino e que servia para sinalizar o início e fim das aulas, em que por tantas vezes amarramos pedaços de lingüiça para que os cachorros o fizessem, para desespero dos encarregados, Anita, Demerval e Murilo; no pátio, senti falta da cantina, onde pendurávamos nossas contas dos tantos doces que ali comprávamos fiado; da imensa sala onde se encontravam as também imensas estantes repletas de aparelhos e instrumentos de física e química, entremeados aos vidros escuros com as diversas substâncias químicas; e mais saudade ainda do salão nobre, onde participei e assisti as tantas sessões do Grêmio, saudade majorada pelos tantos que me antecederam, professores e alunos, com muitos deles hoje em outros planos. E percorri todo seu pátio, chegando à piscina, onde encontrávamos os filhotes de rãs que púnhamos nos estojos de Aurora, Maruza e Maria Helena Castro, nossas eternas colegas de turmas, somente para ver o faniquito que aprontavam a cada vez que os abriam, com as rãs pulando em cima delas.

Como se em um filme que se projetasse em minha mente, revi acontecimentos hoje considerados como hilários pelo passar do tempo e que não devem ser esquecidos, pois são muito mais que estórias, são as próprias histórias de muitos de nós e que integram como cada um dos tijolos desse prédio onde o Ginásio se assenta e que ora me permito contá-las:

O “ginásio”, como era carinhosamente chamado, foi o palco em que se descobriram grandes talentos que por ali passaram, consolidados em suas cadeiras duplas de madeira: como exemplo, toma-se a imagem do hoje notório radialista Hilton Abi-Hiam que, precocemente, fixando uma lâmina de Gilette na parte superior da mesma e tocando-a com os dedos compassadamente e simulando o tic tac dos relógios, irradiava : - Rádio Relógio Federal, transmitindo de minuto a minuto a hora certa... Pílulas de Vida do Doutor Ross – com uma faz pum, com duas pum pum e com três faz prááá.- sem observar que Seu Clóvis, então Diretor, se encontrava atrás dele, observando-o atento. Ao vê-lo, Hilton interrompe a “transmissão” e Seu Clóvis o inquire: - O que houve, seu Hilton, continua que preciso acertar meu relógio. – respondido por Hilton: - Não posso, seu Clóvis. A rádio saiu do ar, pois acabou a energia...

Tempo de grandes descobertas, como a das linhas nylon de pescaria, as quais ficavam praticamente invisíveis quando esticadas ao chão e com uma nota de um cruzeiro amarrada em uma de suas extremidades, como se perdida por alguém. Escondido atrás da porta de sua sala e olhando pela greta, Cléber Coimbra está vigilante no aguardo do incauto que a encontre. Ao ver u´a mão a pegando, ele puxa a outra extremidade da linha, para mais longe de quem a tentava pegar, sem que ele soubesse de quem se tratava. E a operação se repete por inúmeras vezes, até que ele vê a sua frente a figura imponente de Seu Clóvis, com a nota presa nas mãos, dizendo-lhe:- Muito bonito, Seu Cléber. Vá para casa e somente volte aqui na segunda feira..., como era seu costume, não sem antes embolsar a nota...

Entre risos incontidos, revejo a imagem do professor Cleber Guarçoni, figura ímpar e querida, sempre muito aprumado, ministrando suas aulas de história. Naquela época, para se economizar as solas de nossos sapatos Vulcabrás, fixávamos inúmeras chapinhas de ferro em forma de meia lua nele, através de três tachas. Ao descobrir que uma das chapinhas se soltara, pusemo-la sobre a cadeira do professor, com as tachas para cima e fixadas ao assento com chicletes. Cleber entrou, cumprimentou a todos educadamente como sempre o fazia, puxou a cadeira e sentou-se. Mesmo tendo sido espetado na bunda, ao ver a gargalhada contida de toda a turma, com seu habitual fleugma, não deu o braço a torcer: manteve-se acocorado durante toda a aula, sendo que por inúmeras vezes se cansava do esforço e novamente sentava, sendo espetado e retornando à posição anterior...

E chegamos às sessões mensais do inesquecível GEGA, mais tarde alterada sua denominação em Agostinho Paraguaçu, muito merecidamente. A sessão transcorria plácida, despertando aplausos a cada apresentação, quando intensa fumaceira cobre a tudo e a todos. INCÊNDIO!!! – É dado o alarme. Correria geral, com algumas meninas desmaiando, outras querendo pular pelas janelas. Seu Geraldo Bruzzi, querido e saudoso secretário, resmunga: Henriquinho, filho da ...., desta vez colocou fogo no ginásio..., logo concluindo que eu era inocente, que não poderia ter sido eu, que estava sentado justamente na primeira fila, ouvindo atento a declamação do poema SE, de Rudyard Kipling, expresso pela professora Beth Freitas. Para os que não sabem e que até hoje me detratam, afirmo que aquilo foi obra de Gaioti e Ninzinho, conforme por eles próprios assumido anos depois...

Revejo as imagens de Carlos Ebert e Zeca, amigos que partiram precocemente e lembro que certo dia, levei comigo para o colégio um pedaço de corrente prateada, de mais ou menos uns trinta centímetros, extraída de um baleiro do bar de meu pai. Zeca, ao vê-la, teve a feliz idéia de extrair um fio de sua meia de nylon então desfiada, o qual, por muito fino, ficava praticamente invisível quando esticado, amarrando em uma das pontas a corrente e passando-o pelo trinco da janela, sob a qual nos postamos, sentados ao chão.

Devidamente paramentados, com as gravatas de nossos uniformes colocadas em nossas cabeças, como se bandanas e, enquanto eu com um lápis à boca como se fosse uma flauta indiana a tocava, ao som de “fi-fi-ri-fi-fi”, Zeca disfarçadamente puxava a ponta do fio, fazendo com que a corrente fosse subindo, como se uma cobra naja, rebolante. E formou-se um círculo a nosso redor para observar a proeza e não observamos que Leda Mariano, nossa professora de inglês já se encontrava em sala e com a aula já iniciada.

Incontinente, como sempre, ela nos expulsou da sala e nos mandou para a secretaria, para mostrarmos ao Seu Clóvis, Diretor, e para lá fomos, angustiados, pois já não era a primeira que aprontáramos na semana. E ficamos a aguardá-lo, sentados ao chão. Tão logo ele chegou e constatou que mais uma vez ali estávamos e antes mesmo que nos “suspendesse e mandasse para casa até segunda-feira”, como era de seu costume, começamos a executar nossa teatral apresentação, exatamente como a original, bandanas na cabeça e com Zeca puxando escondido o fio e eu tocando a flauta e a cobrinha subindo e descendo ao som dos acordes.

Por um bom tempo seu Clóvis ficou ali a olhar nosso desempenho, sem entender exatamente como era feita a “mágica” e, desalentado, daquela vez, permitiu-nos voltar para a próxima aula, sem que fossemos suspensos, para nosso alívio, já que seu Clóvis não conseguira entender como o fizéramos e com um meneio de cabeça, exprimiu seu desalento: - É, realmente não tem jeito...

E para comprovar que a única expulsão de um aluno dos quadros do Ginásio não ocorreu e de que todo o imbroglio que nos envolveu, ao saudoso Dr. Mandale Minassa e a mim, não passou de um imenso mal entendido, decorrente de mais uma vez em que me lancei em busca do que é correto e sobretudo de justiça para todos, apresento abaixo, devidamente registrado em foto e com testemunho do grande amigo Juracy Nogueira, o momento de nosso reencontro, anos após, bem como, aos que insistem em me ver como desnaturado, que recorram à página 71 daquela publicação, onde esta registrada minha Primeira Comunhão, concedida por Monsenhor Elias Tomasi Podestá... e com foto comprobatória.


 
LHMignone
Enviado por LHMignone em 22/12/2016
Reeditado em 14/01/2020
Código do texto: T5860739
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