Autorretrato
No autorretrato, algumas falhas nas linhas de expressão. Elas parecem bem fininhas, mas na realidade, não são. Os traços invisíveis são grossos. Marcam uma história de noites sem dias.
Atenua um olhar solitário de quem nos grandes invernos da vida, teve que ser forte e suportar todo o frio sozinho.
Disfarça uma lágrima no canto dos olhos, parada, porque retratá-la caindo é demasiado chocante.
Há um arqueado nos lábios para disfarçar uma dor aos que são sensíveis. Cria-se um leve sorriso e todos que olharem-no, dirão: ‘Mas que feliz’!
As sobrancelhas levantadas criam a ideia falseada de que é tão dono de si. Que não passa por momentos de emoções. Emoções ‘é para os fracos’.
No autorretrato, há total autonomia. Pode-se imaginar que está a desenhar a própria vida. E se mostrar feliz, atualmente, é status.
No autorretrato só não é possível, retratar o próprio pensamento. Alterar os sentimentos e desvincular-se da própria essência.