Aguaí

Naquele livro, ele quis escrever algo que valesse a pena. Depois de todos aqueles anos, guardou com carinho apenas suas chegadas de ônibus na cidade, gostando de vê-la lá, esperando. Se encantava com isso, alguém que o esperasse. O resto foi o acúmulo de erros de ambos os lados, que não vale a pena ser contado e sequer apreendido por quem queira tomá-los como lição de vida. São desacertos óbvios demais. Vê-lo seguindo na esperança de que um dia sua relação com ela ia mudar, dói profundamente no meu coração. Não quis desistir. Fez o que pode. Hoje, ele retém apenas os momentos de sua chegada na cidade, o abraço terno e afetuoso, o beijo e o caminhar na rua, tarde da noite, até chegar em casa. Sei porque. Ele não quer desistir da ideia de que, um dia, alguém novamente vá gostar de esperá-lo numa rodoviária qualquer de um lugar remoto, pequeno e feio, salvo apenas pela presença de quem o quer. Tenho certeza que ele se levará por inteiro, como sempre o faz.

GripenNG
Enviado por GripenNG em 21/12/2016
Reeditado em 26/03/2021
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