Juli saindo do mar
Corro em busca de definição para literatura. Procuro na biblioteca, abro livros, escuto vozes. Sei que dentro de mim há espaço para um grande dicionário. Sei que as palavras brotam como a safra dos frutos do mar: Isoladas ou em miríades. Procuro tempo para ler o que Juli escreve. Quero saber quem é e de onde vem. Há somente a resposta de que Juli vem do mar. Jovem escritora do Rio de Janeiro.
Receber um elogio de Juli é acalanto. Basicamente na foto onde está saindo do mar não se vê nada mais do que a impressão de seu corpo. Juli está imersa na atmosfera do atlântico e no próprio abraço. Há certa fineza em se mostrar sem ser vista. Encontro em Juli a definição de literatura. Literatura é Juli saindo do mar num dia quente do Rio de Janeiro.
Procuro compreender o seu trajeto até a areia. Recolhendo os seus pertences e seguindo para uma bebida leve. Continua sonhando personagens, situações, lembranças e desejos de um mundo melhor. (Melhor do que a televisão). Quando as novelas cansam Juli vai ao teatro. Por onde passa os marmanjos aprontam cantadas tolas e vazias.
Se é feliz? Não sei. Juli sai do mar para se abrir em sorrisos, próxima da areia branca, seu tapete. Ela garante em mim a vontade danada do Rio de Janeiro. Um Rio secreto de férias. Rio de janeiro machadiano, apimentado pela realidade musical da vida carioca. Rio de Janeiro do Jô Soares e de Juli. Um Rio Millôr para todos! (Sem patinha de rã lançada no cantor). Um Rio Chico Buarque. Um Rio Jaguar. Um Rio Toquinho, Tom e Vinicius. Um Rio Cyro Monteiro e Dilermando Pinheiro. O Rio comum maior. O Rio simples em plena natureza. Um Rio samba antigo de Noel. Um Rio de todos.
Nesse vôo virtual sonho com a felicidade do prazer reativo que é sair do mar num dia quente. Ela literária, fugindo do medo improferível e das maldades inacreditáveis do mundo. Escapando de táxi, de ônibus, de avião, de trem, correndo para longe do mau gosto. Do mau gosto das gravatas vermelhas e do tédio entrefino das madamas.
Prefere o arco-celeste captado de relance no rosto sincero e puro dos bons. Prefere palavras escolhidas atrás das tintas que formam arcos. Arcos da Lapa.
A literatura nascida do silêncio retrospectivo de uma fotografia é a crônica que fiz para Juli. Um texto com a vontade de transformar dia-santo em carnaval e ganhar a praia até cair a plumagem poética das tardes. Tardes tão serenas como o suco de manga aclimatado no turismo da aurora.
Há algo de platônico antes de toda literatura. Por esta razão tornei Juli saindo do mar como exemplo de trabalho artístico. A sua fotografia é a liberdade ingovernável da criação. O ato raro da escrita, o replantio. Quer reluzir e renasce, revivesce, vai ao cinema para criar palavras de amanhã. Vai à escola para aclimatar em seus cadernos novas noções do imaginário. Quer a antologia da flor.
O bonsai na sala faz refletir na miniatura a lenda indizível. Sei que procura palavras e sentidos. Sei que a imagem artificial leva ao desenho de um retrato. É pura literatura procurar um rosto e encontrar alguém saindo do mar. Alguém sem nome, perdida no tempo e no espaço. Sem mês, sem ano e sem data. Desejo-lhe cem anos de felicidade quando atravesso a rua compreendendo todos os deuses como humanos divinizados pelo medo. Sigo sozinho a viagem heróica por onde fabrico apenas no outro o respeito de agora. Olho e vejo Juli e o mar. E há paz no pier.
Depois dou um duplo clic e a página se fecha.