P a n a r i ç o

O meu tio, o irmão mais velho do meu pai, era um homem muito calmo e calado, mas muito engraçado e com muita coragem. Era também meio duro. Avesso a qualquer atividade social, sua única diversão era cuidar de seus passarinhos e outros bichos de estimação. Era também muito duro e franco. Chegou a participar das volantes que combateram Lampião, mas sobre o assunto não comentava, mas os mais antigos diziam que lutou com muita coragem. Depois que saiu da polícia, não tinha vocação para policial porque detestava polícia, o meu avô montou uma venda para ele na cidade da Pedra, em Pernambuco, famosa pelo seu lagedo e pelos queijos que fabrica. Mas o comércio não era decididamente a praia do meu tio. Chegava um freguês e pedia uma determinada mercadoria e ele, muito sincero, dizia: - Não compre não que não presta. E outras variantes.

Mas vamos a um causo que ficou famoso ocorrido na venda dele. Havia no lugar um cabra metido a valentão, casava e batizava com os mais frouxos. Esse cara teve um problema no dedão, o dedo médio da mão direita, nasceu "Panariço", o cara ficou desesperado e saía pelas ruas dizendo desesperado: - Será que nessa terra não tem um homem que corte esse meu dedo? Era raiva e força de expressão, mas aí, certo dia, ele emburacou na venda de meu tio que estava de costas mexendo numa prateleira e fez a pergunta: - Será que nessa terra não tem um homem que corte a peste desse dedo? Meu tio virou-se para ele e pediu que ele mostrasse o dedo, o cara botou a mãozina no balcão com o dedão com o enorme panariço. Bem calmo. Meu tio pegou a peixeira de cortar charque e, poke! , com o golpe certeiro cortou o dedo do valentão. Depois do grito de dor o sujeito se esvaindo em sangue exclamou: - Você torou meu dedo! O meu tio disse calmo: - Foi para provar a você que aqui tem homem capaz de fazer isso. Levaram o valentão para um enfermeiro que fazia às vezes de médico na Pedra. Ele nunca mais entrou na venda do meu tio. Meses depois a venda quebrou. Inté.