MEU CICLO FUTEBOLÍSTICO
MEU CICLO FUTEBOLÍSTICO
Vão inferir que tudo começava por eu ser o dono da bola, aí lógico, era escalado mesmo a contra gosto, mas por outro lado era a diversão da galera. Peremptoriamente, afirmo que não! Só por que eu era desengonçado, com braços desgovernados e pernas brocas, parecendo um boneco de marionete? Nunca fui desprezado nem queimado por minhas atuações, dava meu máximo. Até porque a bola nunca foi mesmo minha amiga. Ela me tolerava e eu a maltratava, esta é a pura verdade. Nasci para ser a alegria da torcida, que às vezes era composta de um único vivente, que por sinal era um parente.
Ainda assim posso dizer que já fui bom nisso! Não ia me conter por causa de um mero ponto final. Sempre fiz os gols com a bola cara a cara com o goleiro (porém quando acordava era aquela decepção!). Não sou de desobedecer às leis que regem tempo e espaço, insisto, não têm mistérios metafísicos nem teorias filosóficas estranhas. Sempre fui aplaudido de pé, não que fosse um craque, era a empatia com a torcida. Meu papel; sempre desempenhei conforme as letras dos contratos. Humanos materialistas ou não testemunhavam tais fatos. Nunca fui de fazer serenata ou firula, como queiram, como jogador, meu nome era “gol”. Lógico que não cheguei a Seleção brasileira, pois no meu tempo Pelé, Zico, Cafu e outros sempre me passavam a perna. Meu ciclo futebolístico estava fadado a nascer e morrer como a leitura de um livro, com interpretações exclusivas e espiritualistas, de cada um.