Olavo de Carvalho: sobre cobras, aranhas e lagartos

"O pessoal da direita chegou agora, leu três artigos do Olavo de Carvalho, já acha que sabe tudo e quer ser senador, presidente da República. Um bando de palhaços, evidentemente."* Olavo Luiz Pimentel de Carvalho

Os neófitos e picaretas são problemáticos para qualquer vertente política. Simplificam o que aprendem de forma apressada e pouco refletida. Difundem em nome de ideais e filosofias bem estruturadas patifarias, preconceitos e idiotices que não fazem justiça aos seus pensadores originais.

Escrevi um artigo aqui no Recanto a alguns meses chamado a "Aflição de Olavo de Carvalho" em que eu defendia que tal autor se encontrava sozinho numa multidão que não tinha condições de entender seus dilemas e preocupações intelectuais. Houve muitas críticas, pedidos de credenciais para que eu falasse de Olavo, confesso que acabei expondo minhas discordância com Olavo, mesmo tendo consciência de que são picuinhas em relação à importância que este autor representa no cenário político dos últimos 10 anos.

Defendi a BBC Brasil quando alguns ignaros criticaram a iniciativa do site de entrevistar Olavo em sua residência. Fiz a crítica antes de ler a reportagem, se tivesse lido antes teria defendido ainda mais a revista.

Não sou hipócrita, não concordo com as ideias de Olavo, mas admiro o talento que ele teve para ressuscitar o pensamento crítico da direita sob condições desvantajosas. Imagine um sujeito que toque em certos tabus políticos na época em que o Partidos dos Trabalhadores mostrava seu melhor desempenho econômico e social?

Quando comparamos Olavo de Carvalho com Reinaldo de Azevedo e Rodrigo Constantino, podemos perceber que a esquerda brasileira agora ganhou um adversário a altura.

Espero que seus biográficos consigam compreender e explicar o que teria levado Olavo a tal generosidade com os que o procuram. Mesmo os que não se identificam como conservadores podem encontrar em suas palavras a chance de rever conceitos a muito convertidos em preceitos quase religiosos.

Devo a Olavo de Carvalho, não o seu conservadorismo que rejeito, mas as lições de argumentação que ele aprendeu de Schopenhauer e facilitou o acesso a quem fosse esperto. A lógica que utiliza como arma para algo maior, para valores maiores para ele, serve a defesa de ideias

que ainda duvido que seus seguidores tenham a profundidade para contemplar.

O pensamento católico de direita é subestimado ou mesmo desconhecido pelos atuais militantes. A falta desta profundidade tem deixado exposto o flanco dos movimentos no Brasil e ao risco da ridicularização pelos mais tenazes.

Vi hoje a cena em que feministas comentaram com críticas uma página no facebook de uma loja e fabricante de Móveis - que utiliza modelos femininas de maiôs para divulgar seus produtos. Elas simplesmente deram a loja a maior publicidade que nem eles sequer tinha sonhado.

O discurso manjado e pouco profundo, aquém do que se tem produzido e pesquisado sobre estudos de gênero, mídia e ideologia, foi facilmente batido por quem respondia pela página no facebook.

Na base da ironia e desafiando as acusações de machismo e os apelos a emancipação feminina, a página ganhou fãs e holofotes. Eles fizeram algo diferente desta vez, se recusaram a parar de publicar as fotos. Foi uma forma de mostrar que a acusação, que deveria colar neles o significado negativo, não foi aceito.

A página reagiu a ameaça de campanha de negativização por parte de uma usuária do Facebook prometendo premiar a usuária do Facebook caso caísse sua avaliação na referida rede social. E caso ganhasse daria o prêmio a certa entidade.

Continuaram postando a foto da modelo, ironizando o discurso pronto e fazendo piadas com frases feitas e palavras de ordem.

Os homens que de alguma forma tentavam mediar a polêmica, desistiam ou apoiavam os mais radicais, quando as feministas lhe lembravam que homem não deve opinar nas lutas feministas, no máximo ressoar... Jogam, pela arrogância, preciosos aliados para a causa adversária.

Quando pensem na sucessão de erros que as feministas cometerão, pensei que já tinha sido bastante, ela vão até a página da entidade que seria ajudada na campanha e começaram ofender seus dirigentes. Em nome dos mulheres, do feminismo, dos oprimidos. A entidade ajuda crianças deficientes em todo Brasil. Coloquei a mão na cabeça e disse "É..."

Você não está sozinho Olavo! Temos nossos próprios bandos de palhaços e muitos!

Há um senador petista, que foi um cara pintada na época do Collor, que em 2015 se opôs a própria presidente Dilma Rousseff quando a mesma colocou um ministro da Fazenda, Joaquim Levi, elogiado até pela oposição da época, que faria as reformas que teriam evitado a crise econômica que vivemos hoje. Isto era o início do seu mandato em 2015.

A ex-presidente ganhou oposição do próprio partido e de Lula e somou forças, sem perceber, a outra oposição que estava a fim de desestabilizar o governo a qualquer custo.

Escrevi sobre isto num artigo chamado "Somos Todos Cunha" quando tudo ainda estava se desenhando. Resultado o próprio PT desestabilizou Dilma e a oposição se encarregou do resto.

Encerro este artigo comungando com Olavo esta falta de paciência com os neófitos. Não gostam de ler, não gostam de estudar e ignoram as lições mais profundas de seus mestres:

"Eu não quero ser representante de direita nenhuma, só fiz meu serviço que era abrir o espaço para eles poderem falar. Naturalmente, quando você destampa, aparecem junto com as flores as cobras, aranhas, lagartos, lacraia, toda a porcaria vem junto."*

*O artigo referido se encontra em: http://www.bbc.com/portuguese/brasil-38282897 .

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 19/12/2016
Reeditado em 20/12/2016
Código do texto: T5858127
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