Entre Estrelas e Ronronares

Ontem eu ouvi uma coisa interessante que me fez refletir sobre o que sou e de onde eu venho...

"Você é um bichinho do mato infiltrado na cidade!"

Realmente, me sinto exatamente assim. Sinto que não estou no meu habitat natural, que não me adapto, não me enquadro. É como se uma árvore frutífera fosse obrigada a viver no fundo do oceano. Certamente morrerá, tampouco dará frutos. É assim que me sinto, morrendo...

Inútil, sem poder dar frutos, ou poder oferecer minha sombra para repousar, sem poder te oferecer nada, e é isso que espero, nada, nada além de uma morte lenta e solitária.

E aqui, agora, encarando à solidão da noite, com o pouco de prazer que ainda sinto ao ouvir os grilos cantarem fazendo coceguinhas na minha alma de bicho solto, reflito sobre à vida.

Logo menos já poderei ouvir os pássaros cantando, e ver os raios de sol se infiltrando pelas frestas da janela e pairando sobre o toco de madeira que peguei para me fazer companhia. Aí você deve estar se perguntando:

"Que companhia um toco de madeira poderia oferecer?" Para maioria, certamente nenhuma, já para mim, muita, porque ele não precisa ser, só precisa estar.

E está. Um pedaço oco de madeira, vazio, e aparentemente sem vida, tem muito a me oferecer. Afinal é assim que eu me sinto a maior parte do tempo, e no fundo eu sempre acho aqui dentro desse buraco impreenchível algo a oferecer. Então talvez eu não seja um bichinho do mato e sim um toco de madeira abandonado e esquecido por aí, que já não tem mais sua raiz, seu tronco, seus galhos... mas que ainda assim existe. Já fôra uma bela árvore, e hoje é um belo toco de madeira recostado sobre qualquer coisa por aí...

Cheiro de grama paira sobre o ar. Já posso sentir o frescor da madrugada se despedindo beijando minha face. Precisava bagunçar à grama pra isso? Tua bagunça me lembrou aqui dentro, mas teu beijo me despertou para vida.

Vida? Ah, vida! Eu poderia escrever tantas coisas sobre isso, sobre tudo inúteis e incompreensíveis pela grande maioria. Mas vida... que talvez não vivo, e tantas vezes falei que não aprecio. Mas quando eu me deparo com a vida na sua real grandeza e valor, como num suspirar da noite me fazendo olhar para às estrelas que pulsam em mim vida, afinal se as estou olhando é porque estou viva. Num cantar dos grilos, e ronronar dos gatos selvagens que no meu peito acomodo, eu vejo o quanto aprecio a vida, e vivo!

Vivo! E estou. Assim como os grilos, os pássaros e os gatos selvagens, e por que não como o toco?

Jéssica Batista
Enviado por Jéssica Batista em 19/12/2016
Reeditado em 28/09/2019
Código do texto: T5858071
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