CONSTRANGIMENTO!
Pelo grande alvoroço, percebi que algo de extraordinário acontecia nas altas horas daquela noite na minha pacata rua. Ao abrir a porta de casa me deparo com um grande clarão.
O fogo ardia em chamas amareladas, alimentada por materiais de fácil combustão, pedaços de madeira, resto de móveis, livros, além de outros entulhos acumulados no local. Era como se estivéssemos em um arraial nordestino, vendo uma daquelas imensas fogueiras de festas juninas.
Pessoas assustadas, tentavam a todo custo conter as labaredas que subiam por muitos metros, transformando-se em faíscas incandescentes que dançavam ao sabor do vento. Na rua um grande flash dava as casas um brilho avermelhado, os vizinhos aos gritos batiam as portas chamavam os outros, que desapercebidos dormiam tranquilos sem imaginarem o perigo iminente.
A ameaça do incêndio se propagar era clara, a maioria das casas era coberta de telhas de amianto, corria um sério risco pela proximidade do fogo, entre estas, muitas construídas em madeira.
Um Deus nos acuda! A primeira pergunta que faziam, era quem fora o maluco que fizera aquela fogueira, outros justificavam que teria sido sem intenção, por acidente, teve início quando alguém quis queimar alguns papéis, aí a “coisa pegou” e ficou sem controle, quanto mais tentavam apagar, mais forte ficavam as chamas espalhando escuras e densas nuvens de fumaça, que levadas pelo vento, certamente iria causar um grande incômodo para as pessoas, dificultando a respiração, de crianças e idosos, principalmente as que já tinham alguma comorbidade respiratória, ficariam com a saúde em sério risco.
O calor insuportável, dificultava a aproximação das pessoas mais corajosas, que munidas de baldes, latas e panelas jogavam água, o que ocasionava seguidos estrondos e fortes chiados. O povo estava em pânico, crianças choravam agarradas aos mais velhos, alguns moradores tiravam o que podiam das casas ameaçadas pelas chamas, seria o caos se a primeira fosse atingida, a queima seria devastadora para as demais de “parede e meia”, muita água era lançada em seus telhados para o necessário resfriamento. Não podiam contar com a ajuda do Corpo de bombeiros, sediado na cidade mais próxima, a 80km.
Continuava o agonia, a essa altura, já de madrugada, mais gente chegava de ruas e bairros vizinhos, aumentando o contingente de ajudantes e principalmente a aglomeração de curiosos, nunca se vira tantas pessoas reunidas naquele local, em horário de descanso. Enfim o fogo fora controlado, já reinava uma relativa calma, aos poucos a aflição dava lugar ao alívio. Estranhamente as pessoas entreolhavam-se envergonhadas, por saírem de casa às pressas, muita gente não teve tempo de se trocar.
Vestidos para dormir, alguns homens de cuecas, ou samba canção, e muitas mulheres com quase nada por baixo, e pouca coisa por cima.