O EPITÁFIO DA REPÚBLICA
 
A quantidade de moradores de rua, de pessoas em situação de mendicância, que observamos numa breve caminhada pelas ruas da Tijuca, é uma amostra do caos social em que estamos mergulhados. Só lembro de cenário semelhante nos idos da década de 80, durante o governo Sarney. Em tempos assim, alguns políticos costumam exercitar o máximo da sensibilidade que conhecem, cercam as praças públicas com grades de ferro para evitar a concentração dos indigentes. Porém, a insensibilidade não é só dos políticos, também é nossa. Ao visitar uma página do Facebook chamada “Alerta Tijucano”, cidadãos se mostram inconformados com o abandono da Praça Saenz Peña, mas não com a miséria humana que testemunham. Enxergam o sujeito que dorme sobre um papelão como um piolho que deve ser removido para onde for possível, desde que fique longe dos olhos dos pedestres. Debaixo das marquises, encontramos homens, mulheres e crianças, todos abandonados por qualquer ação social. Resta-lhes o exílio dos abrigos, que não soam como opção viável de socorro.
 
Saímos de um período em que diversas inciativas começavam a mover o Estado em direção aos menos favorecidos, às oportunidades que melhoram o conjunto do cenário, com o belo resgate de milhões de pessoas que habitavam à sombra marginal da penúria e que não tinham acesso a nada que desenhasse um horizonte. Agora, entramos na era das PECs, promovida por um sindicato de ladrões, instituem a guilhotina para os mais pobres enquanto baforam a fumaça de um bom charuto importado e degustam um vinho da moda. Alegam, para isso, o bem-estar das contas públicas, a preocupação com o mercado financeiro e seus milionários rentistas. O Brasil, na sua originalidade carnavalesca do verde com o amarelo, permitiu que ascendesse ao poder um Robespierre virado pelo avesso, uma alegoria do terror, batizado com um irônico sobrenome: Temer.

 
Alexandre Coslei
Enviado por Alexandre Coslei em 19/12/2016
Reeditado em 19/12/2016
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