TRAIÇÃO
Andava eu fuçando a internet, como sempre faço quando o tempo não é escasso, e me chamou a atenção um artigo de Karen Curi, publicado na Bula Revista, intitulado: “TRAIÇÃO NÃO DÓI. O QUE DÓI É SABER QUE NÃO SATISFAZEMOS O OUTRO”.
Em apertada síntese, diz a articulista, que não há nada pior do que a traição; que a culpa não é da pessoa traída, mas sempre do parceiro adúltero; que sofremos tanto, quando traídos, porque nutrimos, no amor, um sentimento de posse, que ela aponta como o “amor-compromisso-obrigação-exclusividade” e finda com a afirmação que titula o texto: “...não é a traição que dói. O que dói é constatar que não satisfazemos o outro”.
Não creio que a dor da traição decorra deste sentimento de fracasso por não satisfazer o parceiro.
Antes, penso que na traição conjugal o que causa mais dor é o malogro de uma esperança, porque, quando vivemos juntos, seja lá qual for o grau do amor que é devotado ao outro, ou mesmo quando já não existe amor, há sempre a esperança da continuidade de algo que muitas vezes ainda é bom para um ou para os dois.
Outro fator importante que contribui para a dor do traído decorre da quebra do compromisso de exclusividade (não o descumprimento, em si, dessa regra), porque todos nós temos no correr da vida em comum desejos e oportunidades de relacionamentos “a latere”, que imaginamos prazerosos, e abrimos mão deles em prol daquele comprometimento que julgamos fundamental na vida em comum. Há para o parceiro enganado a sensação de perda de algo bom que poderia ter sido usufruído e do qual abriu mão por acreditar que também o seu companheiro assim agiria naquela circunstância. Em outras palavras, a pessoa sente-se uma idiota, boba... e o julgamento que faz de si mesma é a causa de sua dor.
Mas concordo plenamente com a afirmação de que a dor seria menor se não tivéssemos essa índole monopolística sobre o outro.
Também creio que a fidelidade só é salutar quando espontânea. De outra forma, ou por mera convenção social, é castração.
O melhor seria evitar a traição conjugal com a coragem de uma conversa franca e aberta sobre a necessidade ou desejo insuperável de estar com outro. O problema de tal comportamento é dosá-lo de modo a não tornar a relação existente promíscua.
A causa da infidelidade, muita vez não passa de busca da felicidade, porque esta é objetivo da vida. E como a felicidade não é algo perene, constante, mas, sim, alternante, nos momentos vazios de felicidade junto ao companheiro surge a necessidade busca-la em outro lugar.