MEU COMEÇO FOI ASSIM
Da casa do meu avô para casa da tia Rosa Augusto dava mais ou menos uns trinta metros de distância e ali eu ia todos os dias para tocar viola, ler bons cordéis e ouvir as histórias fantásticas da tia Rosa Augusto, uma senhora bastante alegre. Foi no lar da tia Rosa Augusto que eu fiz repente a primeira com Agostinho Prachedes, o famoso Rasga-Galo. O marido da tia Rosa Augusto era o senhor Raimundo Elias Soares, que as minhas tias tanto o adoravam. O tio Raimundo Elias era um trabalhador querido da tia Ana Rosa, quando ia fazer um serviço qualquer, o tio Raimundo tomava conta e tudo estava garantido. Este casal maravilhoso me queria muito bem e me dava o maior apoio como cantador. Minha viola era guardada na casa da tia Rosa porque a minha família não aceitava eu cantar repente e virar cantador, coisa para minha gente de pouca importância. Cheguei a dormir muitas noites na casa da tia Rosa Augusto e negar onde estava para minha família. O meu início de profissional da viola, foi bastante complicado porque a minha gente mais próxima não entendia a minha vocação literária e sempre fui incompreendido por todos. O sonho da minha família paterna era me ver doutor em qualquer coisa, e nunca um bom artista. Minha vocação literária me fez sofrer muito embora eu nunca tenha fugido dela até hoje. A incompreensão começou dentro do próprio lar em que eu fui criado. As minhas tias e mães adotivas pouco falavam da minha aventura poética, no entanto, os outros parentes só faltavam morrer de inveja. Tive assim um começo triste como cantador, faltando o apoio dos meus próprios parentes. Por opinião e por vocação até hoje não deixei de ler e escrever porque eu faço aquilo que gosto desde que não dê prejuízo aos outros. A arte literária foi sempre o meu sonho e não deixarei nunca, porque é através dela que eu digo o que penso e sinto do Brasil e do mundo. Quem não tem o dom de escrever, não escreverá patavina nenhuma e por isso não gosta das pessoas inteligentes ou intelectuais. Nunca corri atrás de dinheiro, porque dinheiro não dá fama em ninguém, a não ser o nome de velhaco. O meu escopo é artístico, é literário e ser um cidadão humilde, porem respeitado como intelectual. Em todos os meus trabalhos literários há muita força artística, tem a marca da intelectualidade de um ser humano que sem dinheiro algum quis mostrar à sociedade hipócrita que a força de vontade é tudo.