Mudança de direção
Sabe quando eu descobri que a vida não era um jogo? – Quando eu comecei a dirigir.
E isso já aconteceu tarde, por sinal.
Todo adolescente sonha com esse momento ao completar 16anos; fazer as aulas, passar nos testes, pegar a carteira. Com gostinho de diploma. Com sintomas de liberdade. Com os sonhos de viagem à flor da pele.
Que cena mais linda eu descrevi, pois é, mas não foi assim comigo não. Eu com 16 eu só queria lisergia, meus sonhos eram de imaginação, de sentar nas nuvens e viajar nos raios do sol. Eu queria minha primeira guitarra, eu queria meus amigos no peito, mina paz de espírito com muito som.
Pois é, consegui tudo isso e, por muito tempo vivi meu sonho e, era muito simples. Muito básico, Tinha tudo que precisava e sabia disso. Nesse tempo acreditei que a vida podia ser passada a limpo, igual um rascunho de redação que você passa o corretivo, e deixa tudo mais eloqüente, mais certo, mais justo. Brinquei no fio da navalha por muito tempo. Fazia e desfazia bobagens atrás de bobagens. Tentava ao máximo não prejudicar o próximo. Pelo contrario, sempre prezei pela justiça entre todos.
Mas, às vezes, aqui e ali... Surgia um percalço onde eu tinha que usar minha borracha imaginaria e fingir que tudo ficaria bem. E deitava minha cabeça no travesseiro e estava tudo bem.
Mas a o Tempo da vida como não perdoa, me amarrou, me puxou para o chão. E um belo dia, eu me vi, precisando daquilo tudo que nem imaginava que existia. Não tinha mais autonomia.
Comprei um carro. Nunca tinha sentado no banco do motorista. E Foi necessária uma carona no meu próprio carro, para que eu chegasse em casa. A partir daí estava meio caminho andado, o outro “meio”, eu teria que dirigi-lo.
Arrumei verba, comecei as aulas, passei nos testes, pequei a carteira. Posso dizer que o gostinho na verdade foi de responsabilidade, pois o tempo não perdoa, nessa altura do campeonato eu já havia sido ultrapassada. Tudo bem. Finalmente estava dirigindo meu carro e minha vida. E foi ai, que percebi o inevitável, minha borracha imaginaria, tão cedo funcionaria na selva do transito. Ali, eu estava indo de encontro ao sonho de muitos e muitos que lutaram muito para conseguir aquela “lata” que dirigiria os seus sonhos para vários lugares. Qualquer vacilo, qualquer esbarrão, me custaria caro, e algumas vezes custou.
Percebi que os sonhos que a vida adulta trás, são duros demais. E o jogo acaba quando estamos lidando com a responsabilidade das nossas vidas e da vida dos outros. Eu não posso acelerar demais, não posso mudar de faixa ou de opinião. Estamos todos a um esbarrão de distancia. E vou seguindo com meu coração vagueado.