MEDITAÇÃO
Sentado aqui a contemplar o vazio. As luzes já não me ofuscam e o som que ouço já não irrita a minha audição, nada é perceptível. Apenas um leve aroma de flores do jardim da minha moradia vem atiçar a minha imaginação.
Já não sei o que é dia, o que é noite. Tudo se confunde. Acordo sempre quando tento dormir e durmo quando quero desperto ficar, não tenho mais controle de mim. Quem comanda meus atos e minha vontade já não tem nada mais de bom para mim, há uma mixórdia a dirigir os meus passos, não sei para onde ir. Sinto-me impotente.
Os carros passam e os seus faróis apontam para mim, como que querendo me despertar, numa mensagem taquigráfica de fácil interpretação: acorda é chegada a hora de novo despertar; novas razões te motivam a isso. Resisto.
Os transeuntes, que arrastam seus corpos cansados, constituem visão terrificante, pois passam por aqui carregando a desesperança e as suas maltrapilhas almas, sem rumo e sem destino. Apenas transitam.
A lua se escondeu, deixando em breu o meu coração. Os faróis que até há pouco ostentavam em luminosas luzes a mensagem de despertar, agora se apagaram e aqueles transeuntes se desesperam e se buscam, tateando na escuridão. Vejo agora o sentido de tudo e da minha destinação.
Apenas o aroma das flores;
É chegada a hora da metamorfose.
Vou ficar aqui até o renascer de nova lua, de novos faróis e de novas almas.