DINORAH E SUA PRESA
DINORAH E SUA PRESA
Dinorah parecia sempre estar dormindo, quando seu marido chegava em casa, madrugada alta. Ela vinha sorrateiramente investigando o que chamava de escapadas de Casemiro. Ele não era de esconder as coisas e ela já possuía todas as senhas, incluindo e-mail, redes sociais e o celular. Farta de passar por idiota cercara-o de todas as formas. Instalara gravadores e até câmeras na garagem. O telefone faz tempo que estava grampeado. Era senhora da situação e iria desmascará-lo, pelo menos era assim que se sentia com todos esses recursos em ação.
Bem e o que sentia sua presa? O mesmo que muitos homens de cinquenta e poucos anos. Certo sucesso na carreira e certo enfado do cotidiano. Tinham uma vida relativamente folgada, filhos também relativamente criados e uma boa casa. Ah! As madrugadas, as reuniões no banco estavam ficando cruéis, se não fosse pelo bônus, tinha vontade de chutá-las. Parece que quanto maior era o sucesso e o ganho monetário, mais os caras queriam reuniões. Aja saco!
A investigação de Dinorah não fora totalmente em vão. Descobriu uma aventureira no face book que atendia pelo nome de Célia. A vigarista não tinha retrato, mas escrevia com muita intimidade para ele, recordando tempos de infância e momentos felizes JUNTOS!!! Ia mostrar para ele com quantos paus se fazia uma canoa ou uma jangada. Miserável trocando-a por uma amiguinha de infância, ou seja, lá o que fosse.
Enfim chegou o grande momento. Dinorah interceptou uma troca de correspondência em que um retrato era prometido, embora anunciado como não de muito boa qualidade.
Confirmado o retrato, deparou-se com uma mulher de quarenta e poucos anos, bonita, elegante e que aparecia com um véu, muçulmana matutou? Resolveu que já tinha o material necessário, esperou pela chegada do marido e fulminou?
- Quem é a sirigaita?
- Siri o que?
- Gaita
- Ah! Bem Gaita o Romano tocava gaita, mas faz tempo que não o vejo.
- Não se faça de Miguel!
- Vai ser difícil até porque me chamo Casemiro.
- Não banque o cínico engraçadinho. Aquela que no face book se identifica com Célia e usa um véu, é muçulmana?
- Ah! A Célia é minha irmã quadrática.
- Que porra é essa de irmã quadrática?
Dinorah estava por um fio.
- É irmã por parte de pai, além disso, é freira, irmã. Ou seja, duas vezes irmã. Pertence a Ordem das Missionárias de Jesus Crucificado, andou pela Amazônia e fazia uns vinte anos que eu não tinha noticias mais detalhadas dela. Agora voltou para a Casa Mãe da Ordem que é em Campinas e retomamos contato. Não sei se você sabe, mas as missionárias só usam o hábito no convento, na rua se vestem como qualquer pessoa. Às vezes, algumas, talvez por modéstia, usam um véu na rua. Acho que a fotografia que você viu no meu face book foi tirada na rua. Ela esta bonita na foto não?
- Você nunca me falou dela, rosnou Dinorah.
- Ela estava um pouco ausente da minha vida. Se você topar podemos convidar ela para jantar na quinta-feira que tal?
Mais um rosnado.
- Esta bem.
Para si mesmo Dinorah ia pensando: com homem é bom não baixar a guarda, o sistema de vigilância vai continuar a ser usado.