SER PROFESSORA: DA BRINCADEIRA À COISA SÉRIA

Eu me lembro das brincadeiras da infância, quando brincar de escola era algo frequente. Com direito a cadernos, lousa, giz, provas e trabalhos valendo nota. Era bonito ser professora. E importante!

E por falar nisso, quem nos introduziu no mundo das aulas, e disso nem eu nem meus irmãos nunca esquecemos, foi a Silvia do Seu Mazim. A moça era dedicada e demostrava amor pelo que fazia. Não sei por onde anda, o que faz da vida, perdemos o contato. Talvez nem a reconheça, já que se passaram mais de trinta anos desde aquele tempo.

Silvia gostava de ensinar. E levava livros e cadernos, tudo novinho, eu lembro bem, aqueles cadernos com o hino nacional na contracapa. Não se tratava de uma brincadeira, era muito mais que isso, havia por trás da simplicidade da professora voluntária uma proposta didática.

Eu sequer sabia ler, ainda seria alfabetizada, mas guardo os conteúdos explorados em nossas aulas. E deles, tenho a lembrança viva da chegada dos portugueses ao Brasil, o encontro com os índios, primeiros habitantes da terra encontrada, e os jesuítas catequisando os povos. (A história que a escola me contaria em momento posterior, confirmando o que eu pensava ter aprendido, mas isso é tema para outro texto).

E seguiu-se aquela infância de brincadeiras. E na minha cabeça eu seria professora quando adulta. Sabe aquela pergunta, que costumamos ouvir repetidas vezes, quando crianças? “O que você vai ser quando crescer?” Professora! Eu não tinha outra resposta.

Mas, com o passar dos anos, a transição à fase adulta foi me conduzindo por outros caminhos. E fui me permitindo viver as oportunidades de trabalho e a diversidade de experiências que estas me ofereciam, e nem passava pela minha cabeça a escolha da carreira docente. Escolhi a área administrativa, atuando como secretária durante alguns anos, até decidir pela docência, o que levou tempo, pois, mesmo aluna do curso de Letras, aos 35 anos, eu ainda tinha dúvidas quanto à escolha da profissão. Seguia na licenciatura me perguntando, a cada dia, o que eu estava fazendo ali, se não seria capaz de atuar como professora, fosse pela falta de talento, fosse pela timidez. Eu temia desistir do curso no momento dos estágios. Pensava nisso todos os dias.

E, para minha surpresa, exatamente nos estágios eu decidi que eu queria, sim, ser professora. E mais: que eu poderia ser professora. Uma professora capaz de aprender; capaz de buscar formação para discutir e propor reflexões sobre como lidar com os desafios dessa profissão. E foi na experiência das práticas, frequentando a escola, participando de atividades cotidianas, vivenciando o desastre que é o cenário atual, de indisciplina de alunos e desespero de professores que não sabem o que fazer, entre outras coisas, que decidi fazer parte de tudo isso, com a presunção de, quem sabe, contribuir de alguma forma.

Enfim, para finalizar, eu preciso dizer que o verdadeiro motivo que me levou a escrever este texto foi a emoção que senti hoje mais cedo, quando organizava os certificados e os boletins dos meus alunos do Curso Básico de Espanhol. A lembrança forte da infância me veio, do tempo em que brincava de ser professora, e não pude conter as lágrimas.

“Agora é de verdade, Maria Celça!”, a consciência vibrou.

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 12/12/2016
Reeditado em 12/12/2016
Código do texto: T5851238
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