IDAS E VINDAS

Todos são unânimes em afirmar que viajar é diversão e aprendizagem incomparáveis. Concordo. Conhecer outros locais, sua história, sua cultura, seu povo. Fazer amizades, distrair-se. Alma e mente alcançam leveza. Às vezes o peso corpóreo nem tanto. A gastronomia típica é irresistível!

Planos feitos, passagem comprada. Aguardo animadamente o dia. Decido sobre a roupa. Arrumo a mala, passo o cadeado e vou para o aeroporto. Aí começa a ‘lenga lenga’. No aeroporto de origem a tranquilidade reina. Check in realizado, boarding pass entregue, mala despachada.

Passo pela Polícia Federal. Relógio apita. Volto. Passo novamente. Novo apito. Tiro o sapato. Outra tentativa. Apito. Dessa vez o cinto. Sinto muito, chega de apito, senão acabo sem nada sobre o corpo. Ou seja, nua!! Aí realmente haverá tumulto. Por fim atravesso, pego a tranqueira toda e saio me ajeitando. Até parece saindo de algum lugar escondido depois de ter feito um amor, rapidinho. Sapato, relógio, cinto. Colocados nos seus devidos lugares. Fecho a mala e saio correndo, nem tanto. Andando rápido para alcançar os companheiros que saíram na frente, sem tanta retirada de acessórios.

Conexões aqui e acolá. Chego em Congonhas. Desço do avião. Puxo a mala, literalmente. As rodinhas estão ficando gastas. Ainda resistem porque sabem que não tem opção. Ou roda ou vai aos empurrões. Nem mala gosta disso.

Saguão do aeroporto de Congonhas. Sabe o que parece? Rodoviária. De tempos idos. Lotada. Barulhada. Malarada. O pessoal estaciona com a mala no meio do caminho e ali fica. Colado ao chão. Aí, vou passando, pedindo licença. Alguns arredam. Outros se fazem de surdos. Aí, sai um empurrãozinho e junto a cara feia do dito cujo. O espaço para passar foi conquistado, a duras penas. Não, a duras desviadas dos obstáculos: pessoas e malas.

Sigo em frente, chego ao balcão da companhia para confirmar o voo. “não, senhora”, diz o funcionário. “O embarque mudou para o portão lá em baixo. Desce pela escada rolante”. Vou-me para o outro gate. Mas, que escada rolante? Não vejo nada. Ah! Escondida no canto. Desço. Vixe! Tem mais gente ainda. Vai caber esse povo todo no avião? Claro, pois são vários voos embarcando os passageiros. E o tumulto é constante. Parece até doença crônica. Nunca se cura, nunca cessa.

Vou para o avião, finalmente. Ledo engano. Pego o ônibus do aeroporto que dá algumas voltas. Acho que nem o motorista sabe qual é a aeronave. Acerta. Entro no avião. Coloco minha maleta no compartimento de bagagens. Todos viajam com maletas de mão. Nem maletas são. Muitas deviam ter sido despachadas. Tomo meu assento, avião decola. Como aquele lanchinho sem sabor. Chego ao meu destino. E tem a volta. Do mesmo jeito.

De outra feita, cidade menor. Aeroporto pequeno, mas bem estruturadinho. No aguardo, chega a notícia. Problemas no aeroporto de destino. Tenho que esperar. Eu e o grupo. E vai chegando mais gente, mais e mais. Lobby apinhado. Todos comprando, gastando os últimos niqueis da moeda estrangeira. Todos comendo nos poucos restaurantes. Lugar para sentar? Ora, tem espaço no chão. Finale, volto para hotel, durmo no conforto. Cedíssimo, caminho do aeroporto novamente. Gran finale, no avião com destino a outro destino. Dessa vez sem atraso. Destino alcançado, correria na certa. Para chegar a tempo de outro passeio. E na corrida todos se espertam. As malas! Tem que pegar. A esteira corre. Como nós. Mas, vem todas. Malas e maletas. Corro para o ônibus. Bagagens guardadas. Segue o ônibus. Avião só na volta.

Outro aeroporto. Época de Jogos Olímpicos. Idas e vindas planejadas com antecedência. Uma hora antes para fazer check in? Dessa vez a Polícia Federal (PF) quer duas horas antes da revista. Quem sabe uma bomba escondida? Só se for de chocolate ou creme para matar a fome na espera longa, por causa do receio de obstáculos que atrasem o embarque do retorno para casa. A tarde se escoa no saguão. Dessa vez vazio. Quase vazio. Conversinhas, lanchinhos, só faltou o joguinho. De cartas. Inofensivo.

Aeroporto. Ambiente conhecido. Lojas restaurantes. Saguão de espera. Consumo. Nas idas e vindas. Um cafezinho, uma água, uma lembrancinha. Seja lá o que for. É consumo.

Em uma das voltas para casa, a espera parece tranquila. A não ser pelo episódio do relógio que apita ao passar na revista eletrônica. Parece que sempre. Retiro. Não tenho que colocar relógio, na próxima viagem. Transpasso sem apitos. Pego as sacolas e me vou. Tempo depois dou falta do relógio! Volto correndo, literalmente, para a PF. Está lá guardado. Pelo menos esta é honesta. Perguntam a marca. Eu sei lá! Descrevo a peça e consigo recuperá-la. Volto á tranquilidade. De esperar pelo meu voo. E na espera, escrevo.

Depois dessas epopéias, podem me perguntar. “Viajará novamente”? “Claro”, respondo. “E as experiências nos aeroportos e com os voos”? “Fazem parte da viagem”, esclareço. Após algumas vezes acontecidas, fico experiente e resistente. Pronta para outra. Viagem. Ida e volta. Do mesmo jeito.

Tereza Freire
Enviado por Tereza Freire em 11/12/2016
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