ENTRE CONSELHOS E INQUIETAÇÕES ("O casamento é como enfiar a mão num saco de serpentes na esperança de apanhar uma enguia." — Leonardo da Vinci)

Ah, os sábados! Dias que prometem descanso, mas que às vezes nos surpreendem com suas peculiaridades. Neste em particular, mal o sol despontara e meu celular já vibrava ansioso, como se quisesse me arrancar do conforto das cobertas para mergulhar em águas turbulentas.

Era uma mensagem. Alguém buscava conselhos sobre a vida conjugal, como se eu fosse um sábio detentor de todas as respostas. Confesso que me senti como um equilibrista em uma corda bamba, tentando não cair nas armadilhas das expectativas alheias. Instantaneamente, lembrei-me do velho ditado: "Gato escaldado tem medo de água fria". E como não teria? Já naveguei por mares revoltos de amizades online e relacionamentos complexos.

As experiências do passado forjaram em mim um escudo de prudência. Enfrentei tempestades emocionais, dissipei sombras de dúvidas e superei ameaças de ciúmes. Agora, ironicamente, me vejo como um especialista relutante nessas águas turbulentas da vida. Cada passo dado nesse terreno é como atravessar uma ponte de madeira podre - requer cautela e sabedoria.

Enquanto refletia sobre como responder àquele pedido de ajuda, meu pensamento vagueou para os convites do fim de semana. Amigos me chamavam para festas e eventos, promessas de alegria e descontração. Mas eu, ah, eu tinha meus limites bem traçados. Não sou um adepto fervoroso da "prostituição social", como costumo chamar essa necessidade incessante de estar em todos os lugares, de agradar a todos.

A mulher que me procurou estava preocupada com o marido. E eu, nesse momento, me vi novamente na corda bamba. Como oferecer empatia sem me envolver demais? Como ser um porto seguro sem absorver responsabilidades que não me pertencem? O velho ditado "dono de mulher não é amigo de ninguém" ecoava em minha mente, um lembrete de que se meter nos assuntos alheios, especialmente nos matrimoniais, é como brincar com fogo.

Lembrei-me de uma frase de Nelson Barh: "Só vai para a prostituição, por livre e espontânea vontade, quem tem vocação". Curiosamente, essa reflexão sobre escolhas e consequências se aplicava não apenas ao dilema da minha interlocutora, mas também às minhas próprias decisões sobre como viver e me relacionar.

E assim, neste sábado singular, me vi navegando por correntes de palavras e emoções. Entre conselhos cautelosos e reflexões profundas, percebi que a vida é esse eterno aprendizado. Questionei-me sobre por que lutamos contra certas forças que parecem tão antigas quanto a própria humanidade. Por que nos inquietamos tanto com as escolhas alheias?

A prostituição, palavra carregada de julgamentos, evoca opiniões impregnadas de moralidade. Os papéis de prostitutas e clientes, estabelecidos e desafiados ao longo das eras, persistem. A troca de afeto comercializado resiste, desafiando nossas noções de ética e moral.

Ao final deste dia inusitado, compreendi que cada sábado, cada interação, cada dilema é uma oportunidade de crescimento. Somos todos aprendizes nessa grande escola que é a vida. E enquanto as incertezas persistem, sigo em frente, com o coração aberto e a mente alerta, pronto para decifrar os enigmas que o universo insiste em lançar em meu caminho.

Pois é assim que vivemos: morrendo um pouco a cada dia e, paradoxalmente, aprendendo sempre. Que venham os próximos sábados, com suas surpresas e desafios. Estarei aqui, equilibrista experiente, pronto para mais uma travessia na corda bamba da existência, navegando pelas águas turbulentas das palavras e das emoções, entre conselhos e desabafos, dilemas e certezas incertas.

Duas questões discursivas sobre o texto:

Como a experiência de oferecer conselhos pode ser desafiadora e quais são os limites da nossa capacidade de ajudar os outros?

De que forma a sociedade molda nossas percepções sobre relacionamentos, sexualidade e a busca por felicidade?